Anjo Caído

Sou um vulto impercebível, e
Pairo nas sombras de outrem.
Sinto-me preso e escondido.
Um demônio bifurcado por existir.
Observo a humanidade e as peripécias.
Meus órgãos são pisoteados por eles,
Justo eles, os vermes de Nietzsche.
Tanta tristeza nas minhas asas,
Tais asas ruflam para baixo.
De Lúcifer a mim, temos a abrupta decadência.
Sou o arcanjo do esgoto, o núcleo
Do obscuro é o meu júbilo afagante.

ENÍGMA

 

 

 

palma da mão:

                    

                      salmo de Salomão

 

-quem poderá elucidar

 

                      os segredos do coração

                    

                      do homem que consolido

                                       

                      em mim?

 

 

PRIMAVERA

  

 

 

Venho depois do inverno

colher rosas amarelas

e juntar todas

em um perfumado buquê

 

E propor à primavera

uma pausa na estação

para prolongá-la

na cadência dos dias

 

Época de transe floral

bela e transcendental

lindas orquídeas

colhidas sob a neblina

 

Tulipas / jasmins / margaridas

de tão acentuado vigor

que as tornam ousadas

feito um hábil sedutor

 

Canção ao Metal Negro

Dedico esta trova fúnebre
A ti todo teu mal caótico
A canção da sombra lúgubre
O teu desejo mais utópico.     
 
Exterminar o que é mais parvo,
Eliminar o que é benévolo,
Protestando com todo garbo,
Escurecendo sendo malévolo.

No bosque invernal te encontro,
Murmurando ódio a esmo,
Esmaecido por vencer o monstro:
O amor que te deu desprezo.

 

 

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