O herói que perdeu

Encurralado, nosso herói tenta se proteger. Mas que estória é essa? O herói perdeu seus super poderes, suas armas são inofensivas e ainda por cima não sabe mais voar. Enquanto isso, os prisioneiros fugiram, a cidade está sitiada, e nosso herói está ferido. Mas que estória é essa? Não há médicos nos hospitais e sua hemorragia jorra. Mas que estória é essa? Onde já se viu? Uma estória onde o herói não faz nada? Pra que serve esse herói então? – Essa é a estória do herói que perdeu, e por conseguinte não vai ser exibida na seção da tarde. Até porque, não é uma história, e sim uma estória.

Início

Deixa-me rasgar entre dentes o cadastro
De sombrias dores na carne embutidas,
Deixa-me sufocar o cheiro que alastro,
Serei sempre o mártir das tuas feridas.

Deixa-me ser o que não tem sentido,
Escrever o desinteressante,
Sobreviver no sentido proibido
Sob o letal ar escaldante.

Deixa as minhas palavras arder
Sobre o peito onde nascem
Os suores que as viram crescer,
Rasgando na carne o início da viagem.

BRETON, André - Filósofos Modernos e Contemporâneos

BRETON, ANDRÉ

(O Surrealismo)

1896 – 1966

Antes de prosseguirmos será oportuno registrar que BRETON não é considerado por alguns eruditos mais ortodoxos, um Filósofo no sentido estreito da palavra, em razão de seu trabalho não ter seguido as diretrizes habituais da disciplina.

Pages