Fotografia

O difícil de se fazer poesia
É ser tudo fácil em excesso,
Que antes de ser já existia
Em mim, juro e confesso.

Existe onde penso e sinto,
Aparece no papel escrito,
Como mapa dum labirinto
Innito que parece finito.

Sou assim e deixo-me cair
Nesta tentação que tenho,
A loucura que há por sentir
A arquitetura do engenho.

Por isso escrevo este relevo
Que tenho na alma exposto,
Faço o que posso e que devo
Na fotografia do meu rosto.

Para escrever livros não é preciso ser escritor

Os escritores são iguais a toda a gente,
Têm uma profissão como tantas pessoas,
Ser escritor tem que ver com ser diferente,
Ou, pelo menos, ser viajante nas proas.

Poetas que escrevem fazem alexandrinos,
Fazem a métrica toda, se for preciso,
Com tantas personagens, com mais figurinos,
E a conclusão do verso é sempre um paraíso.

Escrever livros? É muito fácil fazê-lo.
Pode fazê-lo qualquer pessoa, e pronto.
Às vezes, fazem loucos, puxam o cabelo,
E nunca nada finaliza com um ponto.

Excerto sobre a linguagem

Como introduzir um sentimento em linguagem? Pouco importa o que expressamos, nunca é de fato o real sentimento citado, apenas meras idealizações pueris da nossa cognição. Por qual motivo usar a dor como motivo de marketing, senão a promoção das iguarias saborosas do sofrimento alheio? Cada um degustando o prato da lamúria do outro, contemplando a dor de outrem. Já dizia o velho rabugento de outrora: ''A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado''.

A linguagem mata a verdade

O pensamento se perde pela linguagem
As sentenças mais joviais apodrecem
É como a passagem da infância
Para a feição adulta da vigilância:
Olhando todo o detalhe ligeiro.
É racional, mas esquece o primeiro 
Sentimento puro do momento.
Enunciados são caixões da verdade,
Palavras, catacumbas da triste saudade.

E QUANDO OUVIRDES DE GUERRAS E DE RUMORES DE GUERRAS...

Além desse pranto e ranger de dentes
Som de conflito e gritos dos aflitos
Declarações, reuniões e tensões
Nos desacordos entre presidentes
 
Uma geopolítica apocalíptica
Novos rumores de uma velha história
Tratados ou acordos de falsa paz
E uma nova guerra bastarda e inglória!
 
Ver 'belas cenas' de destruição
Sendo aplaudidas e financiadas
Sentir medo, torcer e ouvir um lado
Mas só quem vence nos traz a versão!

Engenheiro

Maquinário das emoções, 
Sob domínio de seu engenho, 
Ele dá passo a passo
A cerimônia de suas afeições.
Liturgicamente célebre em controle,
Em ritual sem deidades e padres;
Blasfemando contra sua natureza: 
Cérberos latem contra a alma.
Não sente nada que não deseja,
A não ser a mordida da vontade 
Que pereça: rasga suas veias
Porque não suporta sentir.
 
A cada ocorrido fúnebre,

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