TATO TREINADO

a palavra é um risco
um rabisco do hibisco
arisco e óbvio
lancinante desvio
da rota dos sentidos
para o mistério
que advém do todo concluído
(como proposta)
para a concessão do sim / não
-sinal dos tempos
em um jorro de contestações
inegavelmente irrevogaveis
mesmo que o aceno do oceano
seja tempestuosa desolação
salmoura saturada e blasfêmia
azia e nó na garganta do labirinto
que ficou denegrido nas temporas
do tato treinado
corado no sal
do ardor dos desejos

Germe

Das profundas amarguras o germe veio te buscar
Um parasita infernal que do lixo subiu ao seu altar.
Em palavras bonitas ele consegue te conquistar,
A beleza dele te fez estrangular
Qualquer resquício de sensatez.
Do sublime à mixaria, ele dilacerou sua mesquinhez:
Sua vida agora permanece no perene alívio,
Uma oração sem resposta, apenas seu suplício.

As cinzas que te ferem

Volto das cinzas regentes,
As estelares poeiras torrentes
Verão meu resplendor belo.
Pois, tantas vezes ao inferno,
Cansa até o anjo mais leal.
Minha sujeira incomodará
Seu cômodo, encardirá
O pesado sono.
Não haverá verniz na madeira,
Serei seu capim na maqueira,
E minhas mãos chamarão
Nas ardentes chamas,
O seu pesadelo mais comum.

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