Dispersos

1

    --Soffro por ti nesta auzencia,
    Tanto que não sei dizer.
    --Meu Antonio! Tem paciencia!
    Soffrer por mim é soffrer?

2

    Ah quem me dera abraçar-te
    Contra o peito, assim, assim...
    Levar-me a morte e levar-te
    Toda abraçadinha a mim!

3

    Ai ella é tão pequenina
    Que, quando ao meu collo vae,
    Diz o povo: uma menina
    Que vae ao collo do Pae!

4

*ARANHA*

N'um sonoro theatro antigo da Alemanha,
D'um violino aos ais, banhada de luz viva,
Surgia d'um covil uma grotesca aranha,
Dos banquetes do Som habitual conviva.

O ser sombrio e obscuro, ó meu amor! não priva
Da adoração do Bello, a adoração extranha!
E assim se embriagava a escura pensativa
Da lyrica emoção que nossa alma banha!

Mataram-a uma vez. Não mais a pobre amante
Da Musica, surgiu áquella luz brilhante;
Foi-lhe o velho theatro a sua sepultura...

Imaginário

Imaginário

 

O que pode o imaginário

tocar uma imagem projetada

ouvir segredos de alguém que não fala

mas só escreve e prepara

situações e cenários?

O que pode o imaginário

formar um mosaico

com pedras gasosas

cacos incendiários

sem pesos aparentes

arremessados por uma tela plana

sem elásticos

em um céu de mentiras nublado

em um pisca-pisca de estrelas?

O que pode o imaginário

revirar os pensamentos

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