Anjos querem voar

Demasiado frio lá fora
Tua face parece sorrir
Nesta manhã de boa hora
Calma e nossa, deixa-te cair

Os anjos querem voar
Por entre a neve que vai caindo
E lá vamos nós deitar
Vendo tudo lá fora surgindo

E dizem murmúrios em segredo
Que por vezes penso em ti
Mas tudo é mistério
E não o digo nem a ti.

Contas de rezar

          A Maria dos Prazeres
          Mizericordia dos mares!
          Que escrevi para tu leres,
          Que eu fiz para tu rezares!

Maria dos Prazeres.                       Antonio sem Elles.

    Maria é! Violeta da Humildade
    Onda do mar das Indias! sempre triste!
    Porque andará tão triste nessa idade
    Se o Deus em que ella crê para ella existe?

*JUNTO DO MAR*

Que vezes viajando no Passado,!
--Nas horas das torturas das Chimeras--
--Meu bem!--scismo nas limpidas espheras,--
Junto do verde mar lento e chorado!

N'esses astros talvez já habitámos,
--N'outros tempos mais santos e felizes!
E, ó nuvens! bem sabeis se entre as raizes
Dos mortos, para os soes nos elevámos!

Talvez que ali tambem fomos romeiros
Sedentos do Ideal--sem o encontrar!
--Melhor vós o sabeis, castos luzeiros!
Ó chorosa e sonora alma do Mar!

ANGÚSTIA

 

Será possível que Ela me faça perdoar as ambições continuamente esmagadas,

— que um final feliz compense os anos de indigência, — que um dia de

sucesso nos adormeça sobre o vexame de nossa fatal incompetência.

(Ó aplausos! diamante! — Amor! força! — maiores do que glórias e alegrias!

O Nada de Nós…

Existe um nada

Que preenche o espaço

Entre o meu olhar e o teu

 

Um nada que derrama

Uma sombra amargurada

Que sufoca uma angústia

Por nós teimosamente dissimulada…

 

Existe uma culpa

Por nenhum de nós reclamada

Arrogância doentia

Melhor pensar que não é nada…

 

E o nada vai crescendo

Entre o meu olhar e o teu

E a ferida nunca sara…

Do tanto que dói… do tanto que já doeu…

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