Se às vezes digo que as flores sorriem
Autor: Alberto Caeiro on Wednesday, 23 January 2013
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
Demasiado frio lá fora
Tua face parece sorrir
Nesta manhã de boa hora
Calma e nossa, deixa-te cair
Os anjos querem voar
Por entre a neve que vai caindo
E lá vamos nós deitar
Vendo tudo lá fora surgindo
E dizem murmúrios em segredo
Que por vezes penso em ti
Mas tudo é mistério
E não o digo nem a ti.
A Maria dos Prazeres
Mizericordia dos mares!
Que escrevi para tu leres,
Que eu fiz para tu rezares!
Maria dos Prazeres. Antonio sem Elles.
Maria é! Violeta da Humildade
Onda do mar das Indias! sempre triste!
Porque andará tão triste nessa idade
Se o Deus em que ella crê para ella existe?
Que vezes viajando no Passado,!
--Nas horas das torturas das Chimeras--
--Meu bem!--scismo nas limpidas espheras,--
Junto do verde mar lento e chorado!
N'esses astros talvez já habitámos,
--N'outros tempos mais santos e felizes!
E, ó nuvens! bem sabeis se entre as raizes
Dos mortos, para os soes nos elevámos!
Talvez que ali tambem fomos romeiros
Sedentos do Ideal--sem o encontrar!
--Melhor vós o sabeis, castos luzeiros!
Ó chorosa e sonora alma do Mar!
Será possível que Ela me faça perdoar as ambições continuamente esmagadas,
— que um final feliz compense os anos de indigência, — que um dia de
sucesso nos adormeça sobre o vexame de nossa fatal incompetência.
(Ó aplausos! diamante! — Amor! força! — maiores do que glórias e alegrias!
Existe um nada
Que preenche o espaço
Entre o meu olhar e o teu
Um nada que derrama
Uma sombra amargurada
Que sufoca uma angústia
Por nós teimosamente dissimulada…
Existe uma culpa
Por nenhum de nós reclamada
Arrogância doentia
Melhor pensar que não é nada…
E o nada vai crescendo
Entre o meu olhar e o teu
E a ferida nunca sara…
Do tanto que dói… do tanto que já doeu…