HOMO

 

Nenhum de vós ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece...

Ninguem sabe quem sou... e mais, parece
Que ha dez mil annos já, neste degredo,
Me vê passar o mar, vê-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece...

Sou um parto da Terra monstruoso;
Do humus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pae nem mãe...

Mixto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanaz;--talvez um filho
Bastardo de Jehová;--talvez ninguem!

A JUSTINO DE MONTALVÃO

    Em St. Maurice (aqui perto) ha um convento
    De Franciscanos. Fui-me lá ha dias.
    Quando eu entrei, tocava a Avè-Marias.
    Iam ceiar. Fóra mugia o vento.

    Um pallido Christo, ao fundo da sala,
    Espalha em redor seu alvo clarão;
    E, quando se reflecte a Cruz pelo chão,
    Os frades ingenuos não ousam pisal-a.

    «Meu irmão...» disseram, ao verem-me á porta.
    Vontade, Senhor, tive eu de chorar!
    Tão só me sentia, pela noite morta...

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