*ACCUSAÇÃO A CHRISTO*

Bradava um dia ao Christo, ao Redemptor,
Satan, cançado d'insultar os astros:
--Eis-te pendido ahi qual velha flor,
Propheta escarnecido nos teus rastros!...

Vê como a Egreja vae! baixel sem mastros!
Navio roto em mares do Equador!
E os seus padres tem ouros e alabastros,
E folga, Messalina sem pudor!

Tem lançado teu corpo aos cães e aos corvos!
Falsificado a Lei, cheia d'estorvos,
E fogueiras erguido, ó Christo! ó Cruz!...

*Pobre Tysica*!

Quando ella passa á minha porta,
Magra, livida, quazi morta,
E vae até á beira-mar,
Labios brancos, olhos pizados:
Meu coração dobra a finados,
Meu coração poe-se a chorar...

Perpassa leve como a folha,
E suspirando, ás vezes, olha
Para as gaivotas, para o Ar:
E, assim, as suas pupillas negras
Parecem duas toutinegras,
Tentando as azas para voar!

Neste venturozo Dia...

_Ao mesmo Senhor em outro dia de annos_.

Neste venturozo Dia,
Honrado, e honrador Marquez,
Sempre eu vim a vossos pés
Trazer a offerta em Poezia;
Ante Vós a Lyra erguia
Humilde, alegre, e casquilho;
Mas hoje mudando o trilho,
A bem, Senhor, me levai,
Que sendo os annos do Pai,
Dê a Colgadura ao Filho.

*Paysagem*

      O sol adormecera no horisonte;
      As nuvens em retalhos somnolentos,
      Parecem nos bisarros tons cinzentos
      O grupo despenhado de Phaetonte.

      O riacho deslisa ao pé do monte
      Em frequentes e turgidos lamentos;
      A philomela ensina o canto aos ventos
      No chorão, que murmura junto á fonte.

      A varzea rescende á larangeira!
      Da cathedral nas frestas em ogiva
      Um rancho d'andorinhas s'enfileira;

Struggle for life

(A ALBERTO SILVA)

«Luctar, luctar!» dizeis-me vós. «A lucta
É inherente á propria natureza»,
Mas qual é a victoria absoluta
N'esta guerra sem treguas, sempre accesa!

Hája quem venha á barra, quem discuta
E me combata e dome esta incerteza.
Sinto a minha alma inerme, irresoluta,
Cheia de abatimento e de fraqueza.

Eu luctaria com denodo, sim,
Se á lucta visse um terminus, um fim;
Mas qual de vós que ha tanto batalhaes

Árvores do Alentejo

Ao Prof Guido Battelli

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Pages