Fobia Social

Enclausurado pelo medo insalubre,
sentenciado em prisão domiciliar.
Acusado pelo frio na espinha:
Multidões me deixam doente.

Não desisto das coisas, não mesmo,
mas acontece que não há sossego;
Minha alma vai a cem por hora,   
na contramão d'rosa que aflora.
Um jardim  tão lindo me espera,
mas o buque de flores me enterra.
 
O medo de enfrentar é uma enchente,
E minhas lágrimas dão mar sofrente.
Todos na vida debruçam em potência,
enquanto o solitário, sangra clemência.

Aqueles que pertencem à noite

Um espírito escuro está rondando
Os degraus do local insólito
Rugidos melindrosos crescem aos ouvidos
O inferno quer devorar a maldita alma

Neste hospício as vozes me enlouquecem
Não há nada além dos cantos que fenecem
Obscura chance de fugir, torrente sorte
Enclausurada na parede torpe

AFOITO

 

 

 

afoito no asfalto

na rua de ondas desiguais

pareço-me com o idílio

das pedras horizontais

que não se despedem do ermo

do plano remoto

estoico

(dos videntes sem tarjas

sem vislumbres e calabouços)

que me cala a saliva dos olhos

encoberto pela selva salva

descoberto na relva áspera

como um totem nu

silente/emergente

nas têmporas errantes

-de quem?

 

 

 

Uma Mãe

Uma mulher caminha 
Na rua nua de amor
Ela põe a sua mão na minha 
E olha para mim na sua dor.
 
Fecha o rosto com as mãos 
Para chorar o vazio avassalador.
Enquanto uma lágrima corre nos olhos
Uma avassaladora dor.
 
Mãe que grita por dentro
Chora a amargura da guerra
Um filho mal agasalhado 
Parte para enfrentar a guerra
Que ele nunca jamais iria escolher.
 

A serenidade dos silêncios

Vi-me dentro da bolha dos ternos silêncios estáticos
Deixei a alma fundir-se com todos os lamentos axiomáticos
Deixei as palavras exprimirem sua raiva contida num uivo selvático
 
Na serenidade dos silêncios flutua a manhã convertida num eco apático
Perdido na serenidade do tempo esvai-se um segundo bravio e matemático

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