Rua Arapiraca

A acarinhar alguma parte de minha memória
meu modesto e o que parecia ser meu eterno canto
que conhecia as solas de meus sapatos, a rua de meu encanto
desfigurada toda esta mocidade, hoje tristeza compulsória

Peço a Deus a humildade como o rei Salomão
mas confesso não apenas as cinzas e as criaturas vivas
como Josias eu era o rei jovem de obras inventivas
todas as crianças faziam parte da corte sem solidão

Minha rua era a arena da nossa perpétua união
as horas eram intermináveis de animação
Já fomos heróis , do beco do batman

O pólen da luz

O pólen da luz espalha nos céus um trilião de
Ilusões esbeltas, desvairadas….quase apaixonadas
Seu perímetro orbita a envergadura de cada emoção hereditária
 
O pólen da luz perfuma a periferia e o perfil de um relâmpago imaginário
No amperímetro do tempo cada segundo esvai-se eletrizante e precário

Corvos

Garganta seca
não por falta d'agua
secura onde aperta este nó valente
um punhado de sementes indefesas
a mercê de solo seco
um amontoado de angustias
um soluço esburacando o peito
arrancaram as flores do jardim secreto
do coração inquieto
como se arruinou tão rápido assim...
esta fragilidade se alojou de vez
sepultaram para sempre
esta vila latente de mim
e deixaram tatuado de presente
esta saudade sem fim
miopia e o que acompanha ?
ao ver pássaros coloridos , que na verdade são corvos

TALENTOS

TALENTOS
 
Os percalços que a vida tem
Já não nos causam mais espanto
Tanta solidão e desventura
A gente ver por todo o canto
Há tantos males e misérias,
Cada vivente com o seu pranto.
 
Mas nossa vida é assim mesmo,
Tão contundente, tão real,
Na qual poucos têm muitos bens,
Muitos, com pouco, passam mal.
Como fugir do reservado
A cada um, tão desigual?
 

Arte de Amar

Arte de Amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
 
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
 
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
 
(Manuel Bandeira )

O AMOR

VLADIMIR Maiakóvski
 
 O AMOR
 
Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o enxame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado

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