Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Espiritual

Na proximidade do bem
quem o deseja
se serve de prato raso
a comida e abundante
a humildade também

Ainda é cedo para o amadurecimento?
Manga verde não é doce
mas, com um pouco de sal
vai bem

A vida é um livro
cada dia um capítulo novo
chegou a hora de uma nova
publicação
ou um reality show ao vivo

A disseminação merece atenção
imagine o tempo ruim
como furacão, logo passa
se prenda à salvação!

Às vezes, com medo de deixar cair o poema

Às vezes, com medo de deixar cair o poema

fora do mapa,

cerro os dentes,

levo-o até casa na boca.  

 

E enquanto ele se escoa lentamente

junto à porta de entrada,

abre ecos pelos degraus

e ganha formas ao fundo,

eu sonho em arrastá-lo

como um gato até

ao resto do mundo.

Quando eu morrer, Cecília,

Quando eu morrer, Cecília,

talvez os galos não cantem mais à minha volta,

talvez não haja brisa, nem mãos delicadas,

que já não é moderno,

só pilares de cimento e frases largadas

de valas, pedras, pó, pás

e larvas na boca.

 

Quando eu morrer, Cecília,

não quero as mãos cruzadas no peito,

um sorriso de seda

e um vestido de roda bordado inglês,

antes uma tigela de marmelada na boca

a desafiar as formigas,

um pregão nos olhos

e as mãos soltas

para coçar os pés.

 

 

Umbra

Porque continua a penada
Alma, perdida,
A regar um prado
Morto,
Extinto de cores?
Que razão da alma é
Para não largar
Da dor?

O que salva
É a sombra,
Volta e vai solene e bondosa.
Sombra da cor
De uma flor do Amor.

A flor vive, mesmo que morta,
Já que cor é o seu ardor,
E a minha esperança por a ver outra vez
É senão penumbra do meu coração
Em sonhos de saudade.

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