Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Mar

Primordial benevolente e Parente,
Dono de todo o ser tão carente
Do teu sangue cujo derrame
Varre a terra e purifica o enxame.

Por ti eu observo e paraliso
O coração de pedra... Sim, preciso
A erosão que me salva de mim mesmo,
Refletindo na hemoglobina o meu abismo.

Gota a gota, cai a máscara protetora,
A leal mentira, que concilia dor outrora,
Quando de ti longe fiquei... O dono
Soube como atuar; ligou-nos o oceano.

O que o mar separa, o oceano repara.

Amor, sonho da noite

Ai Céus, Ai Deus,
O onírico concede a paisagem dos olhos teus,
E se acordar - não, não - perco a dádiva de sofrer,
Então antes fico para morrer.

O escuro brilhante do astro marítimo
Faz-me amar aquilo que não se desama,
Encontrar o que não se perde,
Perder-me no infinito muitíssimo verde.

Ai como eu sinto o que não devia
Pois em cada pensamento estás tu,
Invasora acolhida no todo que eu vivia.

Foi o frio

Foi o frio que escorregou
para dar passagem ao teu corpo febril
foi uma história bem contada
de tempos atrás
foi o amor de janeiro a dezembro
colorindo o livro de todos amores
foi dor e aprisionamento
não autorizado que perdeu sua força
amor em quantidade verdadeira
para sempre, amém !
Foi o vinho inebriante na taça de Baco que deu força
e coragem explícita
para o delicado e o selvagem amor
foi uníssono e sonoro o meu grito e a intenção severa
de te amar para sempre

enfim

O fascista vai ver o sol nascer quadrado
riu quando 700 mil foram enterrados
riu quando faltou ar numa criança
roubou do pobre
o poder de se alimentar
de viver dignamente
hoje chora
ganhou de presente uma tornozeleira
cravada de lágrimas de milhões de pessoas que perderam seus entes
agora se diz inocente injustiçado
agora pede liberdade
chora
vou chorar de alegria quando lhe ver passar num carro da polícia
o futuro ditador foi escorraçado tem que ser isolado numa cela e esquecido

Estrela da manhã

Sinta-se como uma flor afeiçoada
Pela raridade de sua existência
A delicadeza de poemas cintilantes
Que os li no silêncio sem fim.

Sinta-se como uma cura provável
A tristeza rara dentro de mim
Tainá, você é elixir de vida
Minha dor daninha, perto do fim.

Alfabetos que desconheço
Mundo, em diminuto pertenço
Mas, na beleza das letras
Do teu mundo feliz, careço.

Tens o mundo a ouvir ti
Felicitas também o meu silêncio
Tainá, estrela da manhã
Que ilumina minhas noites.

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