Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Teus Olhos Entristecem

Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Acredita, sim?

Subjugado por um raciocínio
Do qual julgo não ser escravo,
Esconde-se no arbusto o domínio
Esperando o falso do meu passo.

Há uma cadafalso que espera por mim

Não escolhendo os sonhos, escolherei os danos
Mesmo achando que não os escolhi.
Culparei o outro por me estragar os planos
Mas o difícil é acreditar que sim.

Todos os dias são a pressa
Que temos quando não nos olhamos.
É difícil manter a chama acesa
Sem nos incendiarmos de enganos.

Há um engano do qual me perdi

Atualidade

Atualidade

Hoje, não desejo me encontrar
Com todas as ruas da minha infância
são ilusórias há algum tempo!
A padaria já não produz um pão quentinho
pois o imóvel deu lugar
a um imensurável arranha-céu
antes não fosse uma narrativa atual, sincera

O CONTRAPONTO DO PONTO CARDEAL

O CONTRAPONTO CONTRITO DO PONTO CARDEAL

CONTRAI O SISTÊMICO ÓCIO DO POLO NORTE

O CALCANHAR DAS CADELAS ANÊMICAS

CORRÓI O OSSO DO ANTÍLOPE ABATIDO

OS CANTOS DOS LÁBIOS DA TENOR LÍRICA

SUSPIRAM POR BEIJOS NÃO DADOS AINDA

VOLTA E MEIA VEJO E ANSEIO

O PUDICO SEIO DESTE VENTRE

Ainda sobre o amor

Ainda sobre o amor

O amor é esteio, enfrenta a tempestade
mas tem lágrimas valente
convive entre a mesquinhez
desenfreada do mundo
sai ileso, perfeito

Mas a vida é como
cobertores perdidos
com o gozo enrustido
em tempos de frieza humana
sem o perfume do amor

O amor faz presença dos pés à cabeça
mesmo com a timidez operante
labaredas em baixa, diminuto fogo

Não é destino velho

Não é destino velho que hoje
Sou poeta,
Mas porque não luto com o sentir
E me deixo viver.

A quadra é meu tormento, terceto
A doce solidão,
Se com rima já tão dói, sem ela
Amargura é refresco.

No papel flutuo como terra batida
Deixada à sorte.
Escolho manter a cortina de poeta
Que já soube não fingir.

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