Às vezes, com medo de deixar cair o poema
Autor: Maria Manuela F... on Sunday, 24 August 2025Às vezes, com medo de deixar cair o poema
fora do mapa,
cerro os dentes,
levo-o até casa na boca.
E enquanto ele se escoa lentamente
junto à porta de entrada,
abre ecos pelos degraus
e ganha formas ao fundo,
eu sonho em arrastá-lo
como um gato até
ao resto do mundo.
Atravessei contigo o fim da noite,
Autor: Maria Manuela F... on Thursday, 21 August 2025Atravessei contigo o fim da noite,
limpei das nuvens
o pensamento baço.
E, para que a sombra te não matasse
os dias,
resgatei-te o sopro
e segurei-te o braço.
Quando eu morrer, Cecília,
Autor: Maria Manuela F... on Thursday, 21 August 2025Quando eu morrer, Cecília,
talvez os galos não cantem mais à minha volta,
talvez não haja brisa, nem mãos delicadas,
que já não é moderno,
só pilares de cimento e frases largadas
de valas, pedras, pó, pás
e larvas na boca.
Quando eu morrer, Cecília,
não quero as mãos cruzadas no peito,
um sorriso de seda
e um vestido de roda bordado inglês,
antes uma tigela de marmelada na boca
a desafiar as formigas,
um pregão nos olhos
e as mãos soltas
para coçar os pés.
Neural
Autor: WILSON CORDEIRO... on Wednesday, 20 August 2025Umbra
Autor: Egas de Souza on Tuesday, 19 August 2025 Porque continua a penada
Alma, perdida,
A regar um prado
Morto,
Extinto de cores?
Que razão da alma é
Para não largar
Da dor?
O que salva
É a sombra,
Volta e vai solene e bondosa.
Sombra da cor
De uma flor do Amor.
A flor vive, mesmo que morta,
Já que cor é o seu ardor,
E a minha esperança por a ver outra vez
É senão penumbra do meu coração
Em sonhos de saudade.
Espírito de porco
Autor: WILSON CORDEIRO... on Friday, 15 August 2025
Meio nado antes de se afogar
mas para quem quer viver
pela última balsa
aprenda a Viana valsar
qual é a cor da tua imagem?
Camaleão ao massacre!
Que não disfarça o seu punhal
faz selvageria em contra ataque
a minha religião continua
a prova dê saque
mas tu, presta atenção
e caridade
Do pó veio o homem
E do carma, o selvagem?
Não consigo entender esse amor
ou pensamentos retráteis
e cores fracas em tatuagens
cicatriz
Autor: Reginaldo sousa on Thursday, 14 August 2025Estive em versos a lhe procurar
as ruas a noite são deserta
não te escuto em são Paulo
se possível um grito a lhe achar
teu corpo espalhado entre rosas vermelhas
doce é teu perfume
louca na noite
saio a lhe procurar
novamente a lhe sentir
deixou marcas
feridas abertas
posso ao menos saber a que horas voce volta
ou não
posso saber em que bar esta bebendo
posso fazer companhia
então tá fico a lhe esperar
canções e cicatrizes
esperando o dia amanhecer..
A lisura do tempo
Autor: Frederico De Castro on Tuesday, 12 August 2025Noite de luar encoberto
Autor: Egas de Souza on Sunday, 10 August 2025Numa noite tão obscura e empoeirada,
Almas desoladas fazem casa nos prazeres
Pecadores das velhas ruas de sombrios ruídos
E dramáticos afazeres desgostosos.
Perdido neste inferno tão saboroso,
Inquieto e isolado estou, claustrofóbico,
Já que de tanta gente vagabunda no mundo,
Nenhuma se esforça para entender o vazio.
Mas eis que me vem uma familiaridade,
O olfacto captura uma memória terna,
E no instinto eu atuo, recebendo o presente
De quem decidiu fazer-se alguém a mim.