serão ferrolhos

os tortuosos versos

que oscilam

em minha memória

a meio-pau?

(rangendo

como um tecido

oxidado?)

excito as lembranças que divulgo com a lanterna das minhas reflexões; com a lucidez que avivento ao instalar a minha existência num mundo de cristal; com as palavras moderadas da minha razão.

abrando as minhas tensões quando interiorizo a solidão e os seus efeitos benignos; quando exponho o catálogo dos meus ferimentos para depois os imputar às guerrilhas que me circundam; quando controlo o meu destino.

restrinjo a minha existência aos lugares onde a fantasia predomina: às raízes dos veneráveis ideais; à penumbra onde habito inspirado em conjeturas assombrosas; aos cânticos que exercito através da razão.

as ideias que ilumino transmitem-me serenidade para enfrentar o dia-a-dia; para dissolver os clamores furibundos das multidões; para instalar a minha vida num oásis penetrante onde perecem as mágoas e se dilata a erudição.

as baladas que eu cantei inspirado no meu sofrimento... nos desacatos cruciantes em que participei... nas manobras que concebi para alterar o meu destino... na progressão da minha temperança vigente...

o desempenho das sociedades leva-me a pensar nos seus enormes tormentos; nos seus desenlaces nocivos e nas suas premonições agoirentas; nos seus recados díspares que nos podem guiar a um calamitoso porvir.

absorvo vibrações benignas que ultrapassam o bulício vivencial para apoiarem os meus pensamentos; que nobilitam as desventuras a que sobrevivi; que adotam um método escorreito para a minha própria realização.

introduzo os meus versos na razão quando sustenho os delírios malignos da minha existência; as lágrimas brotadas das minhas tormentosas expedições; as palavras infaustas que me ultrajaram; os meus abundantes desconsolos.

a liberdade está no centro das minhas pretensões quando observo as agruras humanas; quando vogo na onda agitada dos meus clamores poéticos; quando introduzo nos meus protestos a brisa fecunda da razão.