Desilusão

amor em vão

 

Não consumas meu amor

como se fosse

uma jarra de vinho

 

Não me sugues

porque sabes

que no fundo de mim

encontrarás amor

 

Não se deleite

no leite do meu seio

que nosso amor me deu

e que agora

se desfaz em linho

 

Não existe nada

além do fim do amor

 

Talvez uma abóbora

Talvez um pote de nanquim

 

No fim

há somente um sim

sobrou um só

pedaço do coração

o outro foi comido e devorado

beiços lambidos

Erro

Nunca serei totalmente teu,
porque nunca serei totalmente meu...

Sou um erro, e errando me evito:
evitando-me nunca serei meu...

Sou um Sonho, profeta, Louco, Vidente, Fantasma, Santo, Anjo, Promessa, Porvir...
Sou o que quiserem ver em mim...

Não tenho família,
Sou em estrangeiro entre os meus...

Nunca serei totalmente meu
e nunca serei totalmente teu...

Estou no Futuro ou no passado,
à frente ou atrás...
Estou onde me quiserem ver...

Perdi os Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Canção da Torre Mais Alta

Juventude presa
A tudo oprimida
Por delicadeza
Eu perdi a vida.
Ah! Que o tempo venha
Em que a alma se empenha.

Eu me disse: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
De algum bem que seja.
A ti só aspiro
Augusto retiro.

Tamanha paciência
Não me hei de esquecer.
Temor e dolência,
Aos céus fiz erguer.
E esta sede estranha
A ofuscar-me a entranha.

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