NESGA AZUL
Olhando a falésia escarpada,
Que plúmbea, me abisma o pensamento,
Sinto a minha alma encarcerada,
Ávida de seguir os quatro ventos.
Só uma nesga azul é descoberta,
Por onde entra o sol que m’ encandeia,
Nesta paisagem sombria e deserta,
A única razão que me enleia.
Mas, penso que apesar da mortalha,
como um navio tolo
de bandeira corsária
atraquei-me em seu colo
na beira do cais...
NÃO SEI SE IAS…
Vi-te passar apressada,
Não sei para onde ias,
Não era de madrugada,
Mas eram horas tardias.
Não sei se ias, se vinhas,
Mas o teu ar apressado,
Dizia-me entrelinhas,
Que tens novo namorado.
Porque muda tudo tanto,
Que até o próprio pranto,
Se fosse uma ave do céu,
Se eu pudesse voar
E libertar-me dos passos,
O céu era todo meu
E num suave adejar
Levava-te nos meus braços.
LAVADEIRA
Oh! Lavadeira que lavas,
Nas frescas águas do rio,
Amansas as águas bravas,
Quer faça calor ou frio.
Nem a frescura das águas,
Apagam o teu fulgor,
Só tu lavas minhas mágoas,
Quando perdes o pudor.
Lavadeira que te lavas
E eu tanto m’ inebrio,
O pântano entre as florestas
É tão triste ;
Se figura ,num instante ,
Em verde mostro berrante,
Destrói
Peixes ,plantas ofegantes ,
Nadar é impossível ,
Navegar é importante
Sobre as águas insípidas ,
impotentes .
O pântano entre as florestas
É tão feroz!
Tira vida
Tira paz .
É sombrio e terrível
Esse monstro ,
Tão perto do verde das matas ,
Tão próximo do mar ,
Tenho em mim um poço de maravilhas ,
A espera de ser descoberto ,
Num futuro certo e correcto .
