Fofoca
Autor: Reirazinho on Wednesday, 17 May 2023Cadenciando meu ritmo
na música rigorosa,
eu tenho só dó das línguas
tocadas pela fofoca;
que num apalpar tão vil,
musicaliza entre dentes
suas cordas vocais sujas.
Cadenciando meu ritmo
na música rigorosa,
eu tenho só dó das línguas
tocadas pela fofoca;
que num apalpar tão vil,
musicaliza entre dentes
suas cordas vocais sujas.
A mágoa despreza a simpatia,
onde só há desgraça e rispidez,
o mundo do caos tornar-se-ia
o local onde os fracos não têm vez.
Ansiedade, dor e idolatria
resume toda a forte liquidez,
o homem então se cobriria
se adornado à voz da sensatez:
O amor já é inútil nessa via,
talvez pense que é estupidez,
e se nem isso você me confia
a mágoa não lhe será cortês.
Um menino lança a pedra n’água,
donde quica mil vezes no rio,
cada batida rasga com o vento
a vida da pedra e su’alma.
O quique é um passar de hora,
longínqua hora e minutos,
tempo entendiando o menino,
mas que afunda a pedra agora.
A noite fria se aproxima,
e o rio escuro reflete a lua,
o garoto deixa a cena
e a pedra, não mais se via.
Queria saber fazer poesia.
Ter na cadência Camões,
ter n'alma Meireles,
romper laços como Andrade,
ou escutar suas lições…
Queria ser um poeta.
Uma alma de sonhos lindos,
a rebeldia revolucionária,
ser arquiteto da beleza,
Um Van Gogh dos versos líricos.
Sou Zé Ninguém, sou José.
Mas eles não dizem ''e agora?'';
não me escutam ou leem,
sou um deficiente de espírito,
um protopoeta sem fé…
A história da porta diferente
é um conto de terror muito antigo,
uma porta que se esguia num tiro
quando a bala esvanece nossa gente.
Ela se abre na maca dos enfermos
noticiando a abertura da morte,
trancando a carne vil que se contorce
sob as terras dos caixões mais ermos.
Às vezes o que é bom é escuro,
esconde entre desejos o supérfluo,
disciplinar o ego torna-se fúlgido,
aquilo que é bom é verdadeiro:
angústia mascarada em segredos…
O bom é aceitar a derrocada,
não ser abatido por entre máscaras,
mas olhar-se no fundo tão sombrio,
e no torpor reluzir entre o tempo.
Troca de valores no mercado
habituam-se na mesquinhez,
o redpill odeia mulher,
mas ele adora a insensatez.
Trata com júbilo o odiar,
vê na pílula o seu elixir,
odeia o VSM dos outros,
mas por isso, se faz existir.
Sexualmente fracassado,
com personalidade ruim,
sofre, sofre o iluminado,
e lamenta ser assim.
O meu sonho não me dá grana,
ele arrasta minhas lamúrias,
embeleza o meu desespero
encarniça minhas penúrias.
Poesia nasceu na desgraça,
dum nascituro doloroso
veio ao parto taciturno:
e sofre meu verso amoroso.
De tantas possibilidades
adentrei na pior: escriba!
Escrevendo tristes relatos
duma triste noite tão fria.
Sempre quando lembro da efemeridade do mundo, o medo apossa-me da cabeça aos pés. Tudo pode acontecer! O mundo passa a mil volts por segundo, e a lei da entropia alvitra no fundo dos meus pensamentos apenas destroços; sinto que ao caminhar, cairei; se o Estado enlouquecer, a fome comerá minhas certezas; a falta de abrigo, tornar-me-ia um desabrigado das profecias. Toda vez pensante rente ao medo das coisas, logo vejo não haver possibilidades sólidas.