Aos que partem...
Autor: Machado on Friday, 29 May 2015Aos que partem
Aos que partem
És a prova cabal do prazer máximo.
Da alegria intensa que te gera, deixas apenas um torpor
Doce; de explosão, de êxtase!
A satisfação indelével da consumação
Da vida, no poder de gerar outras mais.
És tão excelente que tudo o que é bom remete a ti!
Tudo o que é vital te é associado.
A marca do fim da infância, da inocência.
Mas não és aprazível, és asqueroso ao toque!
Culpa tua, por destruir o momento mais essencial de toda existência!
És fascinante, hipnótico!
Tens cheiro de vida
E gosto de morte!
És a cor, o vigor, a excitação
E o desespero da razão pura.
Uma simples gota tua me revela por completo;
Tua fuga, minha ruína, minha destruição.
És quase tudo de mim. Sou apenas teu dique;
Onde corres e brincas a teu bel prazer
Fazendo-me ser. E viver.
És a prova do trabalho,
A paga do esforço,
A lembrança mais perene dos meus feitos mais efêmeros.
Efeito de minha inquietação,
Talvez, por isso, agoniante?
Sim, porque não és agradável!
És irritante, desconfortável… terrível!
Inconveniente, mas favorável!
És a única coisa que me impede de explodir
Sob o incessante calor da vida.
És indecisa, estranha… um paradoxo!
Doce e salgada;
Alegre e triste;
Incômoda e benvinda.
Mas és confortável, aliviadora.
Brotas das rochas mais duras:
A dor, a tristeza, a saudade e a intensa alegria.
E escorres suave, suave…
Um singelo carinho para abrandar
A violência que te provocou.
És o bálsamo do gosto,
Prolongas o sabor do que é bom com tua memória
E te apressas a eliminar o que é ruim.
E que prazer imensurável quando encontras com outra tua irmã!
Quantas sensações residem em tão breve encontro!
És ansiosa, às vezes!
Quantas vezes não foges para procurar o teu prazer,
Antevendo o encontro com teu agrado!
Fazes mal! Deixadas por ti só,
Tornas-te vil, desprezável e perdes o encanto.
Há um silêncio nesta manhã chuvosa
A sala vazia ecoa os sons das risadas.
os gritos das crianças,
As cirandas por elas cantadas.
Apatia
Preferes viver só, distante...
Mudo, num silêncio profundo!
Junta-te a mim, um só instante...
Abriga-te na tinta dos meus versos
Entre as palavras ternas que te escrevo.
Que a solidão não te devore.
Sê firme, sê forte!
Afasta de ti essa névoa…
Olha o mundo, vê algo bom...
A natureza e o seu som