Geral

Era glacial

Era glacial

 

Quem sabe o coração me dirá que essa escuridão um dia vai acabar, ou quem sabe o sol vai nascer e acabar com essas sombras, tenebrosas sombras dessas intermináveis noites frias. Mãos geladas, baixa pulsação, o corpo doe de frio, mas a alma resiste, não há cor, tudo é gelo ou cinza no meu coração que está em plena era glacial.

 

Charles Silva

 

Chagas

Assustei com uma canção feia. A minha esquerda. A minha direita. Para olhar para a frente. Olhei para trás. Vi a cruz das 4 direções do espaço. E parei. Parei diante de um cruzamento supersticioso. Com vermes. Corados. A espernear. Saídos de buracos húmi-dos com pêlos. Pretos. Mortos.

Miguelsalgado, "Escuro"

http://ectoplasma-miguelsalgado.blogspot.pt/

Dilúvios

2.

Sonhei com um cavalo-marinho de boca aberta nas montanhas.

Estava morto mas mexia-se.

O vento empurrava-o e ele rebolava com a boca aberta.

Nas montanhas vi homens e mulheres a dançar.

Um homem solitário escavava no meio dos homens e das mulheres.

E os homens e mulheres continuavam a dançar.

Riam-se da morte.

E havia água enlameada que não parava de subir.

Tive então um desejo: meter o arco-íris na boca do cavalo-marinho e entrega-lo ao homem que escavava.

Glória

Deixa adormecer. Pega no corpo. Mete o corpo numa banheira. Não deixes acordar. Faz furos até ao interior dos ossos. Espreme os ossos para que a medula saia. Não deixes acordar. Deita água a ferver para que a pele desapareça. Esmaga o corpo até ficar como uma folha de árvore. Não deixes acordar. Tira o corpo desse banho de sangue. Não dei-xes acordar. Pega no corpo. Enrosca o corpo. Mete o corpo num canhão a apontar para o céu. E dispara. Para que o corpo chegue até à abóbada celeste. Para que o corpo possa flutuar como uma folha caduca. E assim cair suavemente.

A Poetisa Zemary

A Poetisa Zemary

 

“As palavras se recusam a escravidão,” como diz a poetisa Zemary. Com toda razão, pois as palavras dão liberdade ao poeta, porque a poesia só tem compromisso com o íntimo e a harmonia gramatical. A nenhuma lei está subjugada a poesia, nem o poeta em seu delicioso entrelaçar com as palavras e os sentidos. A boca não pronuncia tanto quanto sentido poético, mas as palavras sim.

 

Charles Silva

COMPANHEIRO FIEL

          73              COMPANHEIRO FIEL

O Senhor Jesus, companheiro fiel!

Colocou açúcar na minha boca, quando amargava como fel!

Me abraçou, quando ninguém quis me abraçar!

Me carregou nos braços, quando não aguentava andar!

Me perdoou, quando ninguém queria me perdoar.

   Como posso deixar?

Esse amor tão verdadeiro, companheiro, um elo de ouro, da corrente que me ligou a Ele!

Sofro por Ele, vivo por Ele!

Não vivo sem Ele!

Ele é a Luz. Seu nome é Jesus.

 

Autora: Madalena Cordeiro

 

Impressões do dia

Impressões do dia

 

Além da janela há um mundo em movimento, cores, formas e sons demonstram sua presença. Em minha retina contraída alinham-se imagens, carros, pessoas que passam, construções imóveis. Ideias, sonhos, angústias, amores, paixões desalinhadas com o barulho do dia. Aqui, do lado de dentro da janela um poeta observa e anota as primeiras impressões do dia.

 

Charles Silva

Sinceramente

Sinceramente

 

Pra mim basta um beijo no rosto de bom dia, mesmo que ainda eu esteja dormindo. Basta dizer: “bom trabalho”, quando saio. Pra mim basta um sorriso quando chego, basta um pequeno abraço e perguntar: “Como foi o seu dia?” Basta um tocar lábios com lábios. Basta de manhã perguntar: “Quer um café?” O que cativa uma pessoa são gestos tão simples no dia a dia quando sinceros. Mas isso é somente quando se ama simples e sinceramente.

 

Charles Silva

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