Geral

Aeroporto de sombras

Há sombras de aviões altos no chão espelhado
e, nos pés, sinto a fúria trepidante dos voos
rasgados (rasantes!) das memórias inventadas
em sonhos que ainda viajam pela minha cabeça.

Por vezes, paro no meio dos degraus
das escadas que elevam os viajantes à partida;
olho à volta e é como se sorvesse cada gesto demorado,
cada medo inconfessado, cada arfar de saudade
incontida no olhar húmido de tanta gente.

Outras vezes, se paro, vejo-te. E imagino que me sorris.

Amor é Amor

Amor é Amor

 

Preciso de um martelo

Para se forjar um ferro.

Para se ter um martelo

É preciso antes forjar o ferro.

Para se fazer um martelo,

É preciso outro martelo.

 

Quero fazer um círculo,

Tenho essa ideia.

A ideia de circulo não é o circulo

É apenas uma ideia de circulo.

É ideia.

Círculo é redondo, com centro circular.

Ideia é isso que acabei de falar.

 

Preciso de amor.

O amor não é o que eu idealizo.

O amor é amor,

QUANDO ESCREVO

         QUANDO ESCREVO

 

Quando escrevo, canto os meus mistérios

Acaricio os meus pecados

Beatifico os sonhos desperdiçados

E retifico os equívocos mais sinceros

 

Escrevo para levar a beleza ao sofrimento

Para comover o ódio

Para desentender o óbvio

Para fazer o silencio rir do lamento

 

Escrevo para acordar a dúvida

Para abençoar os céticos

Para priorizar os ecléticos

Para suavizar minha dívida

 

Quando escrevo, liberto os olhares

CADA INTEIRO

O agora não é mais nada,
foi tudo que foi para ser,
contudo, se põe de cada,
tudo que se pode ter.

O agora só pode ser
o tudo que vem do nada,
outrora se pôde ter,
o que é inteiro, em cada.

Metade do que se queira ter,
é tudo em frente do nada,
só o inteiro pode ser
a luta de cada em cada.

Você

Você é o engulho que me dá

quando passo pelo mar.

Você é o engasgar que me acomete

quando como apressado.

Você é o tropeção que me surpreende

quando ando sem cuidado.

Você é a topada no pé que me dói

quando esqueço de olhar para baixo.

Você é a mosca na sopa que cai

quando estou a saboreá-la.

 

Você é a quimera das dores

que se esgarça

por entre as minhas pernas

no meu pênis.

Você é o meu chafurdar na lama

de porcos doentes no quintal.

 

Você é a fábula  de nomes

O ELO

O amor se dobra para não romper,

Preenche espaços para não perecer.

Quem ama sabe o que realmente quer,

E por este amor, renova-se, até.

 

Desfazem-se conceitos,

Admitem-se mudançãs,

Procura-se um consenso,

Uma lógica semelhança.

 

Não se ama o adverso,

Nem se gosta do oposto,

Duas pessoas, um universo,

Para o amor é um pressuposto.

 

Então eu me coloco,

Diante de você,

Mostrando-lhe como sou,

Para que venha me entender.

 

Só esta bela absorção,

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