Geral

Apeirokalia

O breu da alma cega a retina em prece
A falta do poderoso divino nos escure
Cegueira moral e fulcral no mundo
Os açoites da morte cada vez profundo
Chicoteando a carne demasiada humana
Escravidão natural da beleza profana
O feio é exuberado como licor
Ressentimento e facas: nosso fulgor
Preso na lâmina a mentira inóspita  
Brilhando sangue no reflexo, luxuosa
Derrama ignorância na sórdida ingratidão
Humanidade enterrada em podridão
Outrora um dia no prado ganhou
Esculturou o mármore e sonhou

O Ferreiro

Na força do ferro
A batida do martelo
Criando resistência
Na tenaz obediência
O ferreiro ranzinza
Assopra o pó cinza
De luto por felícia
Pela vida sevícia.

No perigo diário
Sofre tudo calado
Na barba anciã
Carrega a vida vã
Aposentado só
Morreu sem dó
Escondeu amor
Na forja em dor

 

 

Vacuidade

É a vacuidade somente,
só há ela e imperfeição.
Imagine a existência,
após, veja o grande vazio.

Observe a potência chegando,
A forma querendo ser viva;
feito a assombração do breu
rugindo ódio no homem daqui.

A vida jaz; medite agora!
Apenas aceite como é;
o nada natural do todo:
— Da calma para todo o seu fim.

 

Lacrimosa

Rochas em seus pedaços arregaçados,
justaposto aos resíduos dos mares,
com sangue e tragédia, a azáfama
do apocalipse maldizente.
Nem rançosos Panzer’s são tão funestos
quanto os alicerces da história humana.
Decadência, virtude, vida, morte: nada
O nada agora importa, o nada se tornou
tudo, como era eu e você.
Insatisfação por milênios, nós carregamos
como Dybbuk sobrepondo nossos fardos;
A vontade, desgraçada vontade,
amaldiçoou o homem, em sã consciência
Como Zeus com Atlas segurando o céus.

TAKE ZERO

 

TAKE  ZERO

 

nessas horas escassas

nessas mesas vagas

eu me sentei disperso

-a favor do vento-

para construir uma ilusória historia

com típica encenação surreal

que poderia se adaptar

a uma sequência original

fotografada pelas lentes

de uma câmera retrô super-8

e com ela obter a máxima performance

dos prováveis atores do set...

e que o novelo da história

desenvolvesse uma trama 

que incitasse o público a sonhar

Decadência

Percorra os galhos dessa seiva, pobre vida
E Voe como corvo atrás de seu alimento
Pereci tem muito tempo, feito Júlio César
Meu império não morre, volto para vingar
Não digladie comigo, pérfido sujeito; fuja
Quando ainda pode, sua alma cairá feito
Roma, pois o provérbio do guerreiro dita:
Quando Roma vive, o mundo sobrevive
Quando Roma cai, o mundo inteiro decai.

Batalhando contra a poesia

Ophel deve ter sido amaldiçoado,
seu autoflagelo com sua caneta,
punia-se ao lançar palavras
contra a folha, como que fincado
na terra, o espantalho semântico.
Aprecia a verdadeira poesia,
como o perfume de primavera,
aos sonetos do velho marujo.
Sentia-se morgado quando uma
rima limitava o coração da
sentença; ele, tolo homem,
está preso junto aos falsos
poetas, de que se orgulham

AUTO DE TODOS OS DIAS

 

 

tracks / barracos

pilhas: torres de açúcar amargo

filas de condenados

vagando vagando pelos condados

no olho tóxico do furacão

devorando o lixo acumulado

em quartzos sem luz

frases / fetos / objetos diretos

cuidam de seus anonimatos

como se cuida do próximo

do próximo ausente

com a frieza de carnívoros famintos

perante a ante-sala

à espera da presa que certamente

virá: eu

com cautela e mantra e oração forte

invulnerável à  luz do dia

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