HYMNO DA INFANCIA DESVALIDA
Autor: Bulhão Pato on Monday, 11 February 2013
O Primeiro Homem
Que lindo mundo! E eu só! Que tortura tamanha!
Ninguem! Meu pae é o céu. Minha mãe é a montanha.
A Montanha
Os meus cabellos são os pinheiraes sombrios
E veias do meu corpo os azulados rios.
Os Rios
Nós somos o suor que o Estio asperge e sua,
Nós somos, em Janeiro, a agoa-benta da Lua!
A Lua
Eu sou a bala, no Ar detida, d'essa guerra
Que teve contra Deus, em seu principio, a Terra...
A Terra
Fragmento
Eu vou contar a grande lenda escura
Do fulminado tragico da Luz!
Seu antigo esplendor e sorte dura
Quando andava entre os povos da Escriptura,
E comprava os juizes de Jesus.
Elle é o Velho Mal, o Orgulho, o Enfado,
E sómente Satan é um pseudonymo;
É o auctor do Remorso e do Peccado,
O morcego da Biblia, e o cão damnado
Que espancava de noute S. Jeronymo.
A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que bóiam no seu negro
abismo de madeira.
UM DIA DE AMOR
APENAS FALTA
AO SEU SENHOR
A CHEGAR
O DIA SER.
...
Aquela poesia
Ah!... Aquela poesia
Que ainda não construí,
Espera pacificamente,
indiferente à minha agonia.
Na verdade ela sorri
Ironicamente
Dos meus atributos infantis.
Ela está peidando, inclusive.
Danada, ainda lhe enfio
Uma rolha neste seu cu.
...
...
O dejeto
Ele flutua,
Causa asco,
Fede,
É humano? Não.
Ou sim.
Vai saber o que é este ser!
Mas, adubadas as plantas,
Não ingerimos essa merda?
...
Escrito em 6-7-1914.
Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Não sou Patativa
Nem sou do Assaré
Não conheço Olávio Bilác
Também não me chamo Zé
Da poesia sou um aprendiz
Só conheço um machado
Que não é o de Assiz
Já uovi falar de Cassimiro
Aquele de Abreu
E juro que muito admiro
Um dos poemas seu
O que fala da aurora de sua vida
Que sempre me faz recordar
Da minha infãncia querida