AMOR E DUVIDA
Autor: Bulhão Pato on Tuesday, 5 February 2013
Escrito em 23-7-1930, primeira versão.
Todos dias agora acordo com alegria e pena.
Escrito em 11-1-1916.
Todas as teorias, todos os poemas
Duram mais que esta flor.
Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O ferreo pé da dor,
E o hymno da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?
Máquina alguma de poupar trabalho
eu fiz, nada inventei,
nem sou capaz de deixar para trás
nenhum rico donativo
para fundar um hospital ou uma biblioteca,
reminiscência alguma
de um acto de bravura pela América,
nenhum sucesso literário ou intelectual,
nem mesmo um livro bom para as estantes
— apenas uns poucos cantos
vibrando no ar eu deixo
aos camaradas e amantes.
É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta
O tráfico de entorpecentes nas escolas,
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
É comum a violência subjugar a lei.
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego
os escravos das drogas.
No dia em que o amor morreu
não houve choro nem pranto
apenas a dor do desencanto
desses sonhos que eram meus...
No dia em que o amor morreu
sepultei a saudade no peito
desse sentir tão perfeito
que a vida me concedeu...
No dia que o amor morreu
saboreei a candura
desses beijos com doçura
que confiaste nos lábios meus...
Todas as opiniões que há sobre a Natureza
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
Toda a sabedoria a respeito das cousas
Quando analiso