Geral

*N'UM CEMITERIO*

Surgite mortui.
     (Apocalypso)

     Invideo quia requiescunt.
     (Palavras de Luthero no cemiterio de Wormo)

Mortos! eu vos invejo!--As frias lagens
Cobrem-vos, hoje, os corações desfeitos!...
As brancas pombas vôam n'esses leitos...
E as meigas aves gemem nas folhagens!

A Natureza enflora os vis defeitos...
Ri nas estatuas, urnas, nas imagens!..
E, ahi emfim, contentes, satisfeitos,
Vós descansais das lugubres viagens!...

Quando o amor acontece...

 

Chegas sem aviso,

vens por onde já não te espero,
vestido de um tempo que a saudade matou...

desventras-me as emoções,
e eu em promessas e fascínios me doo,
flutuas sobre os véus da minha alma,
e sem que te peça
dás-me de provar o teu veneno,
que me mata pouco a pouco
de tanto querer viver-te...

algemo-me a ti no abismo dos abraços,
na tormenta dos beijos,
no quebranto do olhar...

tu conheces-me mas eu de ti nada sei,
sinto-te apenas...

A Ceifeira (INCOMPLETA)

............................................
    Porque é que te odeiam os homens se os levas
                 A um mundo melhor?
    Ó velha hospedeira da aldeia do nada,
    Tenho as malas promptas, vou breve partir.
    Prepara-me um quarto na tua pousada
    Que tenha a janella para o sul voltada
    E fontes á roda para eu dormir...

*DOENTE*

Podesse eu junto a mim--eternamente!--
Sentir roçar, meu bem! o teu vestido
E ó ventura! o teu bafo enfebrecido,
Teu doce olhar e o teu sorrir doente!

Caia do monte o cedro! a grande molle!
Que feneça a _herva prata_ lá no val--
Que me importa!--e qual é meu grande mal
Que morra o cedro, e a planta s'estiole!...

Mas tu, meu bem! mais bella que a _herva prata_
Banhada pelo orvalho transparente...
Não quero que te vás de mim, ingrata,
--Nem teu olhar, nem teu sorrir doente!

Convincentes...

 

chegam já nuas ao meu corpo,
vestidas apenas de desejo,
essas mãos onde eu vejo,
o meu mundo remexer...

mãos que falam,
mãos que calam,
mãos que sabem tão bem ler,
as vontades do meu corpo,
que a boca não quer dizer...

Convencem os meus sentidos,
a entregar-se à paixão,
quando firmemente me tocam,
que deliciosa sensação...

O mundo lá fora...

 

O mundo vestiu-se de noite
eu de ti me vesti...   

a lua entregou-se ao céu
e eu entreguei-me a ti...

por entre a escuridão lá fora
a vida se ia perdendo...
entre os teus braços, meu amor
para a vida eu ia nascendo...

refugiada em teu corpo
a madrugada espiava...
o desejo que corria louco
e que a  pele incendiava...

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