Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
Autor: Alberto Caeiro on Tuesday, 22 January 2013
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Ó formoza Andaluzia!
Terra de Nossa Senhora!
Ó formoza Andaluzia
Onde o luar parece dia
Onde é dia a toda a hora!
Ai eu tenho sete muzas
Quaes d'ellas prefiro eu?
Ai eu tenho sete muzas,
Trez d'ellas são andaluzas
Porque as outras são do céo.
Malaga, terra de encantos,
Terra das vinhas doiradas!
Malaga, terra de encantos!
Igrejas cheias de Santos,
E Virgens cheias de espadas!
Hour of love
(Byron. Parisina.)
Do pôr do Sol áquella luz sagrada,
Eu perdia-me... ó hora doce e breve!
Meu peito junto ao seu collo de neve,--
--N'uma contemplação vaga e elevada!
Nossas almas s'erguiam, como deve
Erguer-se uma alma á Luz afortunada;
Do mar se ouvia a grande voz chorada;
--Palpitavam as pombas no ar leve!
Eu então perguntei-lhe, baixo e brando:--
Em que mundos de luz é que caminhas?...
Que torre está tua alma architetando?...
A cascata canta atrás das barracas da ópera-cômica. Girândolas se prolongam, nos quintais e nas aléias vizinhas ao Meandro, — os verdes e rubros do crepúsculo. Ninfas de Horácio com perucas do Primeiro Império, — Cirandas Siberianas, Chinesas de Boucher.
Não ha mulher mais pallida e mais fria,
E o seu olhar azul vago e sereno
Faz como o effeito d'um luar ameno
Na sua tez que é morbida e macia.
Como _Levana_... esta mulher sombria
Traz a Morte cruel ao seu aceno,
O Suicidio e a Dôr!... Lembra do Rheno
Um conto, á luz crepuscular do dia.
Por isso eu nunca invejo os seus amantes!
--E em quanto hontem, gabavam seus brilhantes,
No theatro, com vistas fascinadas...
Uma é a forma ideal do triste anjo vencido,
--A outra, a doce luz diaphana da manhã!
E entre ellas chora e diz meu coração perdido:
--Em mim vencerá Deus, ou ganhará Satan!?
Ninguem soletra mais vossos mysterios
Grandes letras da Noute! sem cessar...
Ó tecidos de luz! rios ethereos,
Olhos _azues_ que amolleceis o Mar!...
O que fazeis dispersas pelo ar?!...
E ha que tempos ha já, fogos siderios,
Que ides assim como uns brandões funereos
Que levaes o Deus Padre a sepultar?!
Ha que tempos, dizei!--Ha muitos annos?...
E, com tudo, astros santos, deshumanos,
A vossa luz é sempre clara e egual!