Geral

*A MUSA VERDE*[1]

Il apellait l'absynthe sa «muse verte»
     (Les derniers bohémes)

     Io vidi gia al cominciar del giorno
     La parte oriental del ciel tutta rosata.
     (Dante. Purg.)

Infelizes!--os sujos, verdes limos,
Que vezes não tem visto os afogados!...
Corações tantas vezes sobre os cimos
Do Ideal! e que o Vicio tem marcados!

Quem os leva por esses vis atalhos
Do Desespero, Fome e Suicidio,
E ao verde absintho e aos sordidos baralhos!
--Elles que leram Dante, Homero e Ovidio?

Ladainha da Suissa

A MARTINHO DE BREDERODE

    Quando cheguei aqui, dizia baixo o povo
    Pelas ruas, vendo-me passar:
    --Vem tão doentinho, olhae! e é ainda tão novo...
    E assim sósinho, sem ninguem para o tratar!
            (Que boa a Suissa! que bom é este povo!)

    Raparigas de luar, pastoras d'estes Andes,
    Diziam entre si: Quem será este senhor?
    Todo de preto, tão pallido, olhos tão grandes!
    E rezavam por mim, baixinho, com amor.
            (Ó pastoras tão meigas d'estes Andes!)

*ENTRE OS ARVOREDOS*

Calma silentia lunae.
     (Virgilio)

Recordas-te essa noute, ó bella desgostosa!
Que nós andámos sós e tristes divagando,
Entre as folhas e o vento, o vento leve e brando.
Aos lividos clarões da lua silenciosa?!...

Callados e atravez da grande sombra escura
Dos cerrados pinhaes e augustos castanheiros,
Como as almas leaes e antigos companheiros,
Unidos a gemer a mesma desventura!

*A ULTIMA SERENADA DO DIABO*

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezão,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em Milão:

..........................................
..........................................
..........................................

Ó flores meigas, ó Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
--Os alfinetes dourados!

Só pelo amor quebro lanças!--
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d'esta guitarra!

*DUAS QUADRAS DE DIOGENES NO ALBUM DE LAIS*

Quando no meu o teu olhar se esquece,
A minha alma, mulher! é como um urso
Que dança pelas feiras, e obdece
Ao magro saltimbanco e ao seu discurso.

E os meus velhos desejos violentos
Soluçam--hystriões esfomeados!--
Como os gatos noturnos, friorentos,
Que miam lamentosos nos telhados.

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