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*IDYLIO MERIDIONAL*

Sem ti, vejo o meu futuro
Um horto cheio d'abrolhos!--
Ah não me deixem teus olhos
Por este caminho escuro!

No inverno, as candidas aves
Abandonam os pombaes,
Meu bem, teus olhos suaves
Não me desterrem jámais!

Quando á tarde o ceu flameja,
Junto de ti encostado,
Que vezes, não tenho inveja
Da agulha do teu bordado!

Eu quizera a toda a hora
Cantar-te, ó sol os meus dias!
Como os sonetos que á Aurora
Enviam as cotovias.

Meu pobre amigo! Sempre silencioso!

    Meu pobre amigo! Sempre silencioso!
    Assim eu fui. Scismava, lia, lia...
    Mudei no entanto de Philosophia.
    Não creio em nada! e fui tão religioso!

    Tomei parte no Exercito gloriozo
    Que foi bater-se por Israel, um dia!
    Cri no Amor, no Bem, na Virgem Maria,
    Não creio em nada! tudo é mentirozo!

    Não vale a pena amar e ser amado,
    Nem ter filhos d'um seio de mulher
    Que ainda nos vêm fazer mais desgraçado!

*IDYLLIO TRISTE*

(A Léon de La vega)

Olha! sinto-me exhausto
Pomba da minha vida!
Eu serei o teu Fausto,
Sê minha Margarida!

Deixa que o alegre ria
Alma que me estremeces!
Que ruja fóra a orgia
Os prantos, as _kermesses_!

Vamos a colher rosas,
Rola dos meus carinhos!
Pelos brancos caminhos
Nas noutes luminosas!

Sob esta curva azul
Amemos, bem amada!
Na torre levantada
Que gema o rei de Thule!

*NOUTES DE CHUVA*

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno--já sem rosas!--
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!

N'essas noutes sem luz, que--visionarios--
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!

Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,--
E os mortos corações sob as raizes!

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