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*NOUTES DE CHUVA*

Eu não sei, ó meu bem, cheio de graças!
Se tu amas no Outomno--já sem rosas!--
A longa e lenta chuva nas vidraças,
E as noutes glaciaes e pluviosas!

N'essas noutes sem luz, que--visionarios--
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!

Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,--
E os mortos corações sob as raizes!

Antes de partir

    Varios Poetas vieram á Madeira
    (Pela fama que tem) a ares do Mar:
    Uns p'ra, breve, voltarem á lareira,
    Outros, ai d'elles! para aqui ficar.

    Esta ilha é Portugal, mesma é a bandeira,
    Morrer n'esta ilha não deve custar,
    Mas para mim sempre é terra extrangeira,
    Á minha patria quero, emfim, voltar.

    Ilhas amadas! Ceu cheio de luas!
    Ah como é triste andar por essas ruas,
    Pallido, de olhos grandes, a tossir!

*TRISTISSIMA*

N'um paiz longe, secreto,
Lendaria ilha affastada,
Jaz todo o dia sentada
N'um throno de marmor preto.

No seu palacio esculpido
Não entram constellações;
Os tectos dos seus sallões
São todos d'ouro polido!

Nas largas escadarias
Sobem vassallos ao cento,
De noute suluça o vento
N'aquellas tapeçarias.

E pelas largas janellas
Fechadas, sempre corridas,
Ha flores desconhecidas
Que não olham as estrellas.

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