DE TARDE
Autor: Cesário Verde on Wednesday, 16 January 2013
Varios Poetas vieram á Madeira
(Pela fama que tem) a ares do Mar:
Uns p'ra, breve, voltarem á lareira,
Outros, ai d'elles! para aqui ficar.
Esta ilha é Portugal, mesma é a bandeira,
Morrer n'esta ilha não deve custar,
Mas para mim sempre é terra extrangeira,
Á minha patria quero, emfim, voltar.
Ilhas amadas! Ceu cheio de luas!
Ah como é triste andar por essas ruas,
Pallido, de olhos grandes, a tossir!
N'um paiz longe, secreto,
Lendaria ilha affastada,
Jaz todo o dia sentada
N'um throno de marmor preto.
No seu palacio esculpido
Não entram constellações;
Os tectos dos seus sallões
São todos d'ouro polido!
Nas largas escadarias
Sobem vassallos ao cento,
De noute suluça o vento
N'aquellas tapeçarias.
E pelas largas janellas
Fechadas, sempre corridas,
Ha flores desconhecidas
Que não olham as estrellas.
Tenho medo de perder a maravilha
Não quero mais que uma mão,
Ia o vapôr singrando velozmente
O verde mar antígo e caprixoso,
Á rude voz do capitão _Contente_,--
Um rubro homem do mar silencioso.
Demandava a Madeira,--a ilha bella,
A patria excelsa e celebre do vinho,
A viagem foi curta; e no caminho
Intentei relações com _Arabella_.
Arabella era a lyrica ingleza,
Loura, pallida e fragil como um vime,
Que traz sempre a sua alma meiga presa
D'algum amor profundo, mas sublime.
Pouco me importa.
Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.
Para além do Universo luminoso, Cheio de fórmas, de rumor, de lida, De forças, de desejos e de vida, Abre-se como um vácuo tenebroso. A onda desse mar tumultuoso Vem ali expirar, esmaecida... Numa immobilidade indefinida Termina ali o ser, inerte, ocioso... E quando o pensamento, assim absorto, Emerge a custo desse mundo morto E torna a olhar as coisas naturaes, Á bella luz da vida, ampla, infinita, Só vê com tédio, em tudo quanto fita, A illusão e o vasio universaes.