Sinto
Autor: Federico García... on Saturday, 12 January 2013Sinto
Sinto
À direita a aurora de verão desperta as folhas e os vapores e os ruídos deste canto do parque, e as encostas à esquerda retêm em sua sombra violeta os mil rastros rápidos da trilha úmida. Desfile de feitiços. De fato: carros carregados de animais de madeira dourada, de mastros e telas de cores berrantes, no grande galope de vinte cavalos de circo malhados, e os meninos, e os homens sobre seus mais incríveis animais; — vinte veículos, corcundas, com bandeiras e flores como as carroças antigas ou dos conto de fadas, cheias de crianças enfeitadas para uma pastoral suburbana.
Para os corações puros tudo é puro.
S. Paulo a Tito.
I
CHEGADA
A SULAMENSE
--Tomára já ter o gosto
De o sentir beijar-me o rosto!
CORO DE VIRGENS
--E onde ha mulher que te exceda?
Só esse collo embebeda.
O aroma que elle exhala,
Nenhum balsamo o iguala.
2.º CORO
--O teu nome, fallar n'elle,
Só fallar n'elle é tão dôce
Como se um oleo nos fosse
Escorrendo pela pelle.
SALOMÃO
Tocar que impio se atreve!..
(Flores do Campo)
Ella é tão loura, lyrica, franzina,
Tão mimosa, quieta, e virginal,
Como uma bella virgem d'um missal
Toda dourada, e preciosa e fina!
Não ha graça mais casta e femenina
Do que a d'ella! Seu riso angelical
Cria em nós todo um mundo de moral,
Melhor que tudo o que Platão ensina!
Por isso; e pela sua castidade,
Deve ser goso intenso, na verdade,
Sentir fundir-se em nós seus olhos regios!..
¿Ó espírito meu, na apatia e no luto,
Que é do fogo de outrora, aquele antigo ardor
Que a Esp'rança esporeou?... Vá, não tenhas pudor,
Estende-te a dormir, cavalo irresoluto!
Descansa, coração; dorme em paz como um bruto.
Espírito vencido e escarnecido! O amor
E a luta já não teem para ti seduções;
Adeus, cantos gazís, meigas orquestrações!
Prazeres, não tenteis meu peito sem calor!
Perdeu a Primavera o seu perfume e côr!
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Patriota? Não: só português.
Nasci português como nasci louro e de olhos azuis.
Se nasci para falar, tenho que falar-me.