Patriota? Não: só português
Autor: Alberto Caeiro on Saturday, 12 January 2013
Patriota? Não: só português.
Nasci português como nasci louro e de olhos azuis.
Se nasci para falar, tenho que falar-me.
Patriota? Não: só português.
Nasci português como nasci louro e de olhos azuis.
Se nasci para falar, tenho que falar-me.
Ali, onde o mar quebra, num cachão Rugidor e monotono, e os ventos Erguem pelo areal os seus lamentos, Ali se hade enterrar meu coração. Queimem-no os sóes da adusta solidão, Na fornalha do estio, em dias lentos; Depois, no hinverno, os sopros violentos Lhe revolvam em torno o árido chão... Até que se desfaça e, já tornado Em impalpavel pó, seja levado Nos turbilhões que o vento levantar... Com suas lutas, seu cançado anceio, Seu louco amor, dissolva-se no seio Desse infecundo, desse amargo mar!
Tu, n'esse corpo completo, Ó lactea virgem doirada, Tens o lymphatico aspecto D'uma camelia melada.
(A UMA SENHORA QUE NÃO QUER SER EMILIA)
Emilia és, quer queiras, ou não queiras:
Que lindo nome o teu, soante de brizas!
É um nome de pastoras e moleiras,
Loira morgada do solar dos Nizas!
Muitas Emilias ha, entre ceifeiras,
Ha Emilias nos serões das descamizas...
Se tu, Senhor! dás nome ás Amendoeiras
Com o nome de Emilia é que as baptizas!
Que Santa Emilia te acompanhe, Rainha!
E com a tua Mãe seja madrinha,
Quando ella, um dia, te levar á Igreja!
E eu te beijava
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que
julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do
exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não nota rastros
de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às
expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm
necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um
modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que
É comum o sapo morrer na lagoa.
O mendigo comer lixo na sarjeta
O tráfico de entorpecentes nas escolas,
A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
É comum a violência subjugar a lei.
A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas
O inocente ser refém da mesma grei,
Os filhos desesperados do desemprego
os escravos das drogas.