Geral

N'UM CONVENTO

Como a agua em funda gruta
    Gotta a gotta filtra e cái,
    Sem saber quem isso escuta
    O que lá por dentro vai:

    Como ao longe incerta e baça
    N'uma igreja alveja a luz,
    Que da lampada esvoaça
    E a vidraça reproduz:

    Mal te vi, moira encantada!
    Mas á luz dos olhos teus
    Murcha a lampada sagrada
    D'um altar do nosso Deus.

    Mal te ouvi, mas as suaves
    Melodias, que te ouvi,
    São mais dôces que as das aves
    Da aldêa onde nasci!

*DEBAIXO D'UMA JANELLA*

A Batalha Reis

FAUSTO E MEPHISTOPHELES

FAUSTO

Nas noutes brancas de lua
É que se abrem as janellas!
Vem vêr meus olhos escuros
A sementeira d'estrellas!

Quem me dera a mim que fosse
Para te poder fallar,
O teu peito uma janella
E o meu amor o luar!

Uma voz (_cantando dentro_)

As estrellas mais brilhantes,
Entre as outras as primeiras,
São os prantos de Maria
E o suor das Oliveiras.

MEPHISTOPHELES (_cantando n'uma guitarra_)

A MEU IRMÃO AUGUSTO

    Léman azul, que, mudo e morto, jazes.
    Quanto és feliz! assim podesse eu sel-o!
    Nem a sombra dos montes, nem seu gêlo,
    De turvar tuas agoas são capazes.

    Minhas cartas inuteis de doutor
    Eu rasgaria, é certo, com prazer,
    Se eu podesse um dia vir a ser
    Dessas ondas, um simples pescador.

    Léman azul, nas agoas socegadas,
    Quantas vidas tu levas confiadas!
    Pareces ver meu mal, e escarnecel-o!

JOANNINHA

_A Mayer Garção_

Descance de quando em quando...
Passar assim toda a tarde
Sempre bordando, bordando,
Sem que um momento desista,
Até faz pena! Não lhe arde
Nem se lhe perturba a vista?...

Descance de quando em quando...
Erga os olhos do bordado
E veja quem vae passando.
O trabalho alegra a gente,
Mas assim, tão aturado,
--Não lhe faz bem certamente.

A COSTUREIRA, E O PINTASILGO MORTO. (_Lamartine_).

Tu cujas azas tremulas
      O meu olhar tornava;
      Cujo trinado harmonico
      Meus dias alegrava,
      Ai, já não ouves!--Chamo-te,
      E é vão este chamar!
      Chegou a estação gelida;
      Foi para te matar.

Nunca me has-de esquecer! Por bem seis annos,
      Companheira leal
      Tu me foste, avesinha;
Meiga entre as meigas, desprezando os campos,
Deslembrada da mãe, que, á noite, aninha
      No movel cannavial.

A VICTORIA COLONNA

Não sei que ha de divino, força é crêl-o
    N'esses teus olhos d'uma luz tão pura
    Que, ao vêl-os, tive logo por segura
    Aquella paz que é meu constante anhelo.

    Filha de Deus, nossa alma aspira a vêl-o;
    Desprezando caduca formosura,
    Ella, em seu giro eterno, só procura
    A fórma, o typo universal do bello.

    Não póde amar, não deve, uma alma casta
    Fugaz belleza, graça transitoria,
    Coisa que o tempo leva, o tempo gasta.

*MADRIGAL FUNEBRE*

Na mortalha alheia não temos mais que fazer
     Bernardim Ribeiro.

     To die to sleep.
     (Shakspeare)

A ti que os meus ais resumes
Estas quadras dolorosas,
Corpo inundado em perfumes,
E de pomadas cheirosas:

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A mim custa-me a morrer,
--Não por que esta vida valha;
Mas porque sei que heide ter
Teu coração por mortalha.

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