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TOADA PARA AS MÃES ACALENTAREM OS FILHOS

_A Bertha Cayolla Gil Vianna_, minha sobrinha

Oh Desgraça! vae-te embora,
Que esta linda criancinha
Andou no meu ventre e agora
Trago-a nos braços. É minha!...

Do berço, segue-me os passos;
Onde eu vou, seus olhos vão...
E quando a aperto nos braços
--Abraço o meu coração.

Quando o seu chôro receio,
Embalo-a, faço que acceite
A alegria do meu seio
Na brancura do meu leite...

*Ballada do Caixão*

O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte:
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de velludo
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vae a aborrecer,
Fui-me lá, hontem: (era Entrudo,
Havia immenso que fazer!...)
--Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva?--Vamos ver...
Olhou, mexeu na caza toda...
--Eis aqui um e bem barato.

HERESTA

Que magua ou que receio
    Dos olhos te desata
    Aljofares de prata
    No jaspe do teu seio?

    Bem intima ser deve
    A pena que te opprime,
    Flôr tenra como o vime,
    Flôr pura como a neve!

    --Compunge-te isso, dóe-te
    Vêr esmaltando o calix
    Da erma flôr dos valles
    O balsamo da noite?

    Se aos olhos nos affluem
    As lagrimas, parece
    Que a dôr nos adormece,
    E as maguas diminuem.

*OS LOBOS*

La neige batait les vitres...
     (Gustavo Droz)

Cae lentamente a neve em cima dos telhados.

Tres longos dias crus, terriveis são passados,
Que o rude lavrador anda por fóra ao vento,
Á neve, ao frio, ao sol, em busca de alimento,
E ainda não voltou. Um dos tres filhos chora;
Rija e sonoramente, a chuva cae lá fóra.

BALLADA DA NEVE

Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville.

Verlaine

_A Vicente Arnoso_

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...

É talvez a ventania;
Mas ha pouco, ha poucochinho,
Nem uma agulha bolia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...

LEONOR. (_Burger_).

Ralada de ruins sonhos
  Já desperta está Leonor,
  E 'inda agora os céus d'oriente
  Da manhan tingiu o alvor.
«Guilherme, és morto?--ella exclama--
  Ou trahiste a pobre amante?
  Se vives, porque retardas
  De te eu ver feliz instante?»
Nas tropas de Friderico
  Tempo havia que partíra
  Para a batalha de Praga,
  E cartas delle quem vira?
Mas a imperatriz e o rei[1],
  De guerras, emfim, cansados,
  Depondo os animos feros,
  De paz faziam tractados.

*Enterro de Ophelia*

Morreu, Vae a dormir, vae a sonhar... Deixal-a!
(Fallae baixinho: agora mesmo se ficou...)
Como padres orando, os choupos formam ala,
Nas margens do ribeiro onde ella se afogou...

Toda de branco vae, n'esse habito de opala,
Para um convento: não o que o Hamlet lhe indicou,
Mas para um outro, horror! que tem por nome _Valla_,
D'onde jamais saiu quem, lá, uma vez entrou!...

O lindo Por-do-Sol, que era doido por ella,
Que a perseguia sempre, em palacio e na rua,
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela...

*NA TABERNA*

A João de Deus

       Vejo apontar o hynverno...
    os crepitantes frios
    Me açoutam as vidraças...
    (Francisco Manoel)

Alguns dormem nas mezas, debruçados,
Junto aos restos de um vinho já bebido;
--Outros contam seus casos desgraçados.--

Um d'elles alto, magro, mal vestido,
Conta historias d'amor, lançando fumo
D'um cachimbo de gesso ennegrecido.

Um tenta levantar um outro a prumo
Sobre os hombros, e um calvo, e já vermelho
Faz das suas miserias um resumo.

*Reischoffen*

_6 de Agosto de 1870._

      Desfraldam-se estandartes e trombetas,
      Ouve-se o crepitar da espingarda;
      Quando o canhão rouqueja á retaguarda
      Scintilla a larga messe das baionetas.

      As coiraças protegem a vanguarda,
      Dos capacetes poisam nas facetas
      As crinas marciaes, vermelhas, pretas,
      Com expressão terrivel e galharda.

      Bonnemain determina a voz de carga:
      Os estribos telintam, fulge a espada,
      Debalde a morte os esquadrões embarga.

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