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Meu ser evaporei na luta insana

Meu ser evaporei na luta insana
Do tropel de paixões que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quasi imortal a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos

Além-Tédio

Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, emfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Oração

Outomno. Morre o dia.
Cae sobre as coisas placidas e calmas
Um véo de sombra e de melancolia
Que dulcifica e embrandece as almas.

        Todo o meu sêr se invade
De enervantes e mysticas doçuras,
De mansidão, de paz, de suavidade,
De sentimentos bons, de ideias puras.

        No coração prepassa
Uma piedade e compaixão serena
Por todos os validos da desgraça,
Por tudo quanto soffre e quanto pena:

O VELHO MUNDO

Eu vejo em toda a terra um vasto cemiterio,
A necrópole immensa, a campa dos colossos,
Aonde em paz descansa o velho megatherio,
Por entre a fauna morta, os carcomidos ossos!

E os grandes leviathaãs dos primitivos mares;
Os tremendos reptis, crueis, descommunaes,
Celebram no silencio as nupcias singulares
Dos seus residuos vis, com ricos mineraes!

MOCIDADE E MORTE.

Solevantado o corpo, os olhos fitos,
As magras mãos cruzadas sobre o peito,
Vêde-o, tão moço, velador de angustias,
Pela alta noite em solitario leito.

Por essas faces pallidas, cavadas,
Olhae, em fio as lagrymas deslisam;
E com o pulso, que apressado bate,
Do coração os éstos harmonisam.

É que nas veias lhe circula a febre;
É que a fronte lhe alaga o suor frio;
É que lá dentro á dor, que o vai roendo,
Responde horrivel íntimo ciclo.

Melancolias do outono!

Melancolias do outono! Eu quando além descubro,
Nas tristezas do campo, as filas mugidoras
Dos vagarosos bois que voltam das lavouras,
Compungem-me as crueis desolações d'outubro!

Das orlas do poente, afogueado, rubro,
Ó moribundo sol! com que poesia douras,
As formas triviaes das cabecitas louras,
Que, ás portas dos casaes, de bençãos tambem cubro!...

Solta o canto final a orchestra da folhagem:
São horas de partir; apresta-se a viagem,
E as noites dos saraus hão de voltar mais bellas!

*HÉLI! HÉLI!*

Quando elle, emfim, morrendo, elle o cordeiro,
Pomba mansa no ar pesado e immundo,
Pendeu-se como um lyrio moribundo,
Sobre a haste do tragico madeiro.

E lançando o espirito prufundo
Ao reino bello, grande, e verdadeiro,
Finou-se, emfim, chagado e justiceiro,
Ainda, ainda, perdoando ao mundo.

Um soldado romano vendo-o exposto,
E já morto na Cruz, com um desgosto,
Com a lança enristada o trespassou...

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