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FLOR DA MODA

Alice, o turbilhão das salas elegantes,
Começa a entristecer; ninguem sabe por quê!
Aquella flôr doente amava muito d'antes
As festas, o ruido, as cousas deslumbrantes,
Agora é desolada e penso que descrê.

Que tedio se abrigou na vaga transparencia
D'um todo tão subtil, aerio, divinal.
--Moderna creação da santa decadencia,
Que alia gentilmente ás pompas da regencia
Os indecisos tons d'um ar sentimental?!

Á PAZ DOS POVOS : HOMO, EX HOMINIS LUPO, HOMINIS COOPERATOR

      De lobo te foi dado outrora o nome,
      Lobo que a propria especie devastava
      Cruento e fero, qual não viras nunca
      Leões, pantheras, tigres ou chacaes!...

                  E a fera, quando a fome
                  A incita, é quando crava
                  O dente e a garra adunca
                  Nos miseros mortaes.

      Da massa do teu cerebro colhendo
      A luz consciente e pura das ideas,
      Concebes mil engenhos homicidas,
      Inventos d'infernal destruição!

O QUE EU SINTO...

      Se vejo com pavor as luctas carniceiras
      Que empenham as nações, chamadas as primeiras,
                  Nos campos da batalha,
      Ah! quando a sós comigo e o Eterno me concentro,
      Ouço não sei que voz a mim bradar cá dentro:
                  ==É Deus que ali trabalha==!

*A AGUIA*

No tempo em que era a grande deusa viva
Os deuzes, os heroes e as Musas bellas,
Dizia uma aguia velha e pensativa,
Que fizera a viagem das estrellas:

--Vão-se indo as tradições! e hão-de ir com ellas
Apollo, Jove, Vichnou e Siva!
Um astro é grão de luz; o mar saliva
De ti ó grande Pan!... Só Pan tu vellas!...

Mas quando assim fallava a aguia, eis quando
Se ouviu aquella voz triste bradando
Na Sicilia: _Morreu o grande Pan_!

Desobriga

Os meus peccados, Anjo! os meus peccados!
Contar-t'os? Para que, se não têm fim...
Sou santo ao pé dos outros desgraçados,
Mas tu és mais que santa ao pé de mim!

A ti accendo cyrios perfumados,
Faço novenas, queimo-te alecrim,
Quando soffro, me vejo com cuidados...
Nas tuas rezas, lembra-te de mim!

Que eu seja puro d'alma e pensamento!
E que, em dia do grande julgamento,
Minhas culpas não sejam de maior:

A Vida Anterior

Longos anos vivi sob um pórtico alto
De giganteos pilar's, nobres, dominadores,
Que a luz, vinda do mar, esmaltava de cores,
Tornando-o semelhante às grutas de basalto.

Chegavam até mim os ecos da harmonia
Do orfeão colossal das ondas chamejantes,
Ligando a sua voz às tintas deslumbrantes
Da luz crepuscular que em meus olhos fugia.

Em meio do esplendo do céu, do mar, dos lumes,
Foi-me dado gozar, voluptuosas calmas!
Escravos seminus, rescendendo perfumes,

LYRA XV.

A minha bella Marilia
Tem de seu hum bom thesouro,
Não he, doce Alceo, formado
    Do buscado
    Metal louro.
He feito de huns alvos dentes,
He feito de huns olhos bellos,
De humas faces graciosas,
De crespos, finos cabellos;
E de outras graças maiores,
Que a natureza lhe dêo:
Bens, que valem sobre a terra,
E que tem valor no Ceo.

LYRA XIV.

Minha bella Marilia, tudo passa;
A sorte deste mundo he mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
    Estão os mesmos Deoses
Sujeitos ao poder do impio Fado:
Apollo já fugio do Ceo brilhante,
    Já foi Pastor de gado.

LYRA XIII.

Oh! quantos riscos,
Marilia bella,
Não atropella
Quem cégo arrasta
Grilhões de Amor!
    Hum peito forte,
De acordo falto,
Zomba do assalto
Do vil traidor.

  O amante de Hero
Da luz guiado,
C'o peito ousado
Na escura noite
Rompia o mar,
    Se o Helesponto
Se encapellava,
Ah! não deixava
De lhe ir fallar.

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