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Patrícia quebrou a perna

Gente, Patrícia quebrou a perna.
 

E foi fratura exposta. O que é que eu faço?
Eu não entendo nada de ferimentos, nem de enfermagem.
Estou sozinho em casa com ela. E agora?

Não sei se chamo o SAMU, IBAMA, Bombeiros, sei lá. Não sei os números para chamar nenhum desses aí.
Enquanto isso, Patrícia está desesperada ali gritando e gemendo. Coitada.

Depois da Breve Chuva Que Não Vem

Depois da breve chuva 
que não vem
sobe um cheiro de poeira
os clamores do sertanejo
e o lisonjeio a Deus, do pedreiro
que rebocava um muro

tudo na vida é assim
se repete
uns esperando que algo passe
outros, que algo chegue

e como nada fica pelo meio do caminho
apenas nos convém
o clamor ou o lisonjeio,
pois o que se quis ou foi execrado
também é levado 
mesmo se não satisfeito o desejo.

Passa?

 

 

Passa?

 

Pode passar da primeira vírgula
Pode passar do primeiro encontro
Pode passar do primeiro beijo
Pode passar da primeira estrofe
Pode passar da primeira cama
Pode passar do primeiro parágrafo
Pode passar do primeiro ano
Pode passar do que se espera

A Flor

Tinha uma flor na trinca da terra seca
parecia trote ou mentira
o que lá for seja

mas uma flor ali tinha
apesar do sol
apesar de só
   
fora parida
ou plantada?
tinha um ar circunspecto
parecia ainda viva

de longe, uma miragem
de perto, um milagre
mas ninguém ousou arrancá-la
sequer tocá-la

mil selfies tiradas
mais tarde, um milhão de curtidas
nenhuma gota d’água 

Linhas Prosaicas Sobre o Desvairo dos Corações Partidos

Antes de tudo, não sei o que escrevo
de toda forma, essas linhas prosaicas
dirão, sem mais para o momento,

que em meu nome deixo desobrigados
ao turvo caldo das mãos lavadas

isso bem à tarde ou à noitinha

significa que não se precisa trabalhar
amar é imprescindível

mas desobrigados estão de sonegarem
a própria estafa ou fadiga
não precisam fingir bons amantes
tanto faz fadigados ou estafados

essas duas denominações são irrelevantes

o que conta é a mera concupiscência deslavada
do amor deixado para trás
como um rito conspurcado

A Velha Estação do Trem do Tempo

A estação não é a mesma estação sua
não há mais a luz pálida
dos postes de madeira nua
nem aquela tenra teimosia corada
ou esperteza meia-cura

dá até medo, pois parece 
que tudo advindo é um presságio
tão rápido o agora perece 
quanto um trem ágil
que do descarrilhado futuro já vem embalado

que passa por onde é passado
e vamos ensimesmados tão, tão
só vendo pela janela quimeras

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