Geral

LYRA I.

Eu, Marilia, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóes queimado.
Tenho proprio casal, e nelle assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite,
Das brancas ovelhinas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
    Graças, Marilia bella,
    Graças á minha Estrella!

DUAS ROSAS

Que bonita, meu amor!
    Que perfeita, que formosa!
    A ti pozeram-te Rosa,
    Não te fizeram favor.
    A rosa, quem ha que a veja
    Bandeando, sem gostar?
    Mas por mais linda que seja
    A rosa, quando se embala,
    Não te ganha nem iguala
    A ti em indo a andar.

QUINTILHAS: _Offerecidas ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Conde de S. Lourenço_.

Ante vós, Claro Senhor,
Que pondes os sãos cuidados
De bons estudos no amor,
E que d'homens applicados
Sois o exemplo, e o protector;

Levanto sem pejo a voz;
Que essa alma nunca despreza
O pouco que encontra em nós;
Não produz a Natureza
Muitos homens como vós;

Pois vi outr'ora amparado
O discreto, e doce Brito,
Triste moço, em flor cortado,
Que hia alevantando o esprito,
De vossas luzes guiado;

MEMORIA Á MINHA MÃE AO MEU PAE

Aquelle que partiu no brigue _Boa Nova_,
E na barca _Oliveira_, annos depois, voltou;
Aquelle santo (que velhinho e jà corcova)
Uma vez, uma vez, linda menina amou:
Tempos depois, por uma certa lua-nova,
Nasci eu... O velhinho ainda cà ficou,
Mas ella disse:--«Vou, alli adiante, à _Cova_,
Antonio, e volto jà...» E ainda não voltou!
Antonio é vosso. Tomae là a vossa obra!
«Só» é o poeta-nato, _o lua_, o santo, a cobra!
Trouxe-o d'um ventre: não fiz mais do que escrever...

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