o labirinto que eu cursei devastou o meu juízo e os terrenos fecundados pela minha estrutura sensível, mas possuía um orifício por onde eu escapei aos reveses provenientes das minhas atuações.
retorno ao chão da minha infância para demonstrar como consegui ser feliz no meio dos ásperos eventos que me rodearam; como consegui usufruir do meu destino por entre as convulsões mundanas; como consegui desatender as míseras condutas das pessoas.
o edifício que eu construí através das reflexões presenteia a minha a vida com um final jubiloso; com uma resposta convicta à abrangência dos artifícios mundanos; com um desiderato que enfaixa as conjunturas nocivas que me prejudicaram a sensatez.
recobrei a serenidade após anos de protestos veementes; após as derivações insalubres para lugares álgidos e sem graça; após a agreste caminhada por entre os rochedos da solidão; após os abraços fingidos da gente que me circundou.
rejeito pertencer ao grupo daqueles que elogiam a intrepidez dos guerreiros antigos; dos energúmenos que forjaram celeumas para dilatarem os seus impérios; dos criminosos adestrados que escavaram a ferocidade.
na banal convivência há laivos de grandeza nas demonstrações de generosidade; há brigas que se ocultam atrás duma paz aparente; e há comportamentos desleais que transportam toda a imundície humana.
a poesia tem um lastro divino que sonha transformar o mundo; que promove a paz e o desarrolhar das afeições; que intensifica a luta contra a brutalidade envolvente; que enxuga as lágrimas causadas pelo sofrimento humano.
alojei a esperança nos meus afazeres diários e nas minhas inspirações poéticas; nos meus empreendimentos e na minha austeridade vigente; no lodaçal donde me soergui para me poder afirmar; no sossego que fiz derivar da minha razão.
sou um poeta que busca nas emoções um bálsamo contra a hipocrisia; que reproduz as contendas e as infâmias que apavoram a maioria dos homens; que transborda confidências desde a raiz do sentimento que curam a desventura.
transporto na lembrança as vicissitudes por que passei para as desfazer através de influentes atuações que lograram evaporar o riacho mórbido do fatalismo; que lograram introduzir-se nas adúlteras paisagens que percorri para me libertarem dos meus medos.