o cais sereno
Autor: António Tê Santos on Saturday, 7 October 2017as palavras jorram quando as máculas profetizam ousadias excitantes; ou quando o destempero é fomentado pela sensibilidade; ou quando a erudição confere acepipes à nostalgia.
as palavras jorram quando as máculas profetizam ousadias excitantes; ou quando o destempero é fomentado pela sensibilidade; ou quando a erudição confere acepipes à nostalgia.
Com pincéis de incolor seda e uma paleta de infindas cores
Pintalguei abruptamente o meu nascer de fugaz cor,
Suavemente embalei os braços da minha mãe,
De alegria esfusiante desenhada
Com bênçãos mil percorri a minha infância,
E de frondosas árvores e inebriantes animais,
Na Terra Mãe fui enraizada.
À entrada do humano viver
Surge a revolta implacável e imunda,
Timidamente pintalguei o meu ser de cor de medo
E rasgando as minhas células,
Oiço ao longe intensas e vibrantes badaladas
O chilrear brejeiro e alegre dos pardais
Que tal como eu sentindo a suave brisa de vento
E que acorda o reflexo dourado da Terra que me acolhe
Grandiosa e divina que os meus pés pisam sem pudor
Mas na minha alma retrata o meu ser
Ser este que de tão perturbador,
Sonha com o infinito e eterno céu
Que os meus olhos com encanto abraçam,
E que no meu coração habita para nele sempre permanecer
Sentindo em mim que o meu ser é das estrelas
Nas brumas da realidade
Fugazes momentos que transbordam de vida
Presença única que de ti, universo infindo
Encontro nas vísceras que em mim reclamam
O estar vivido nesta realidade que me afoga
Num mar de caóticas sensações de nada
Procuram incessantemente em mim, a vida
Que desnudo e assim sentida,
No breu do meu olhar se desvanece
Apenas neste profundo ser que de mim renasce
E se aflora abruptamente no meu sentir
Que de ti, universo imenso
E este imenso mar abalroa o meu olhar
Sonantes ondas transpõem o meu ser
De profundidade sedento,
Jamais desenhada na superficialidade desta realidade,
Que me afoga com desdém
E inerte olhando para esta sua imensidão
A minha alma finalmente encontra,
Aquela paz que o meu ser escabrosamente anseia
E assim permaneço desejando somente
Reencontrar nas suas intempestuosas vagas
Aquele silêncio que absurdamente me envolve,
E me devolve o breu desta vida
Senhor tu conheces os meus pensamentos
O meu deitar e levantar
Toda palavra oculta em minha língua
Sabes mesmo antes de eu falar
Sabes para onde irei
Antes de me por ha caminhar
Para onde fugirei da tua face
Que não possa me encontrar
Se subir ao céu Lá esta o Senhor
Se mergulhar nas águas do mar
Também ali o Senhor me espera
A tua mão sobre as ondas me guiara
Se as trevas me encobrirem
A sua luz me mostrará
Trevas e luz são iguais para o senhor
Na desmedida ânsia desta escrita
Me traduzo sem pudor,
Regurgitando a minha angústia
Abençoando os meus amores
E exorcizando os meus desamores,
Vertendo invisíveis lágrimas
Que perdi na dor de nunca me encontrar.
E eternamente me procuro,
Pintalgando o meu pensamento
De cor infinda de esperança,
Numa folha de papel de serenidade inundada
E que revejo numa bucólica e vibrante árvore,
Delicadamente me aplainando
E com ternura me transparecendo,
E assim me encontro e desencontro
Suavemente o teu olhar tocando
Que me penetra e confunde,
Aquele olhar que jamais encontrei
No mais profundo do meu ser.
E nele arde em mim o singelo fogo
Que da terra ferozmente brota
Com trevas de esperança anunciado
E exalado num profundo grito de agonia,
E que em mim divinamente aterroriza
Nesta desmedida ânsia de viver,
E me seduz e fingidamente me abraça,
Acalentando com ternura todo o meu ser.
O sol brilha para quem vê além das nuvens.
A chuva não molha aqueles que a sentem.
A lua reflete a luz de quem a namora.
O que o mar leva devolve em saudade.
Não há tempo sem clichés,
Nem tempo para isso.
Neste primaveril entardecer
Um intenso sabor de vida paira
Apega e desnuda todo o meu ser
E perante ti, me ergo, vida infinda
Que de fugaz tempo me eterniza
E incessantemente te procuro em cada esquina,
Breve amanhecer de incessante penumbra
Que delicadamente me abraça e recolhe
Para de mim sua alma toldar,
Breves momentos de sublime glória
Que em mim acalenta e desbrava
Perdidos sonhos que em fulgor renascem
E intensas emoções me desdenham,