Meditação

Civilidade

Civilidade
 
Chegará a hora da razão
as palavras, quaisquer que sejam
sentirão cansadas
que nunca haverá consagração
a menos que ditemos
novas leis ao amor
outros princípios à razão
mais que saudades
nunca morrer de amor
falar a verdade sem destemor
acolher os fracos no ascensor da vida
alimentar os famintos em nosso desfavor
jamais alimentar o divisor da paz

a história duma moeda

uma moeda fulge no cetro, tapa o orifício da fome; anicha-se no ouvido, perfura o ar; em fúria avança e recua sobre os corpos ou funde a si quem parte em busca de ínfima sorte, na fonte peneirando, nas brasas da embriaguês; é uma coroa de espinhos, um enigma! inventa o açoite e o martírio e depois enterra-se no chão.

os fundamentos da alma

destapo o roteiro dos abusos, abro os cortinados existenciais com a força obstinada dum energúmeno que sabe apreciar o lado ínvio das paisagens; infiltro-me nos aquedutos da comunicação para que o mundo se emocione com as minhas evidências, reconto os desenganos sequentes aos sorrisos prestimosos e sinceros, desfaço os nós anquilosantes com uma lógica arrevesada no entrosamento das ideias com os factos experimentais; concebo uma evolução sem as farpelas roídas dos arlequins nem os prejuízos dos usurários ou os caricatos desempenhos dos idealistas, exulto com as estaladas que me transportam

Elos de amor

Elos de amor
 
Se somos o que pensamos,
o que escrevemos, 
o que falamos...
então eu,
porque penso no mais que belo
escrevo todo este apelo
carente e profundo
nas fronteiras do meu degredo
falo do que é mais que um flagelo
no meu corpo onde me revelo
a despeito daquilo em que creio
mas isto serve-me por inteiro
pra que nunca se quebre este elo
quer vivamos mais sós 

Caminhando pela chuva

Caminhando pela chuva
 
Caiem pálidas agora
outras minhas lágrimas
suadas pela esgrima da vida
já nem disfarsadas são
mas sempre imploradas e carentes
como esta poesia insuficiente
já sem rima absolutamente
reabre-se apenas mais uma ferida
que agora não sara nunca
e se encobre exacta
pelos suspiros de um beijo
cheio de graça
quando contigo feliz
caminho pela chuva
FC

Quando um homem sonha

Quando um homem sonha
 
Reverenciam-se mágoas
jamais se apagam as verdades
intrínsecas que reflectem
um gesto de plena humanidade
porque estão inscritas na génese
de um discreto grau de piedade
mesmo que aquela hora
de eternidade
se esvazie num segundo
ela é propriedade de alguem
mesmo que as queiramos esquecer
estão ali,fervilhando delicadamente
em cada abraço de generosidade

Pedra nua

 

Pedra nua

 

Somos pedras sózinhas, nuas...

desesperadamente graníticas

ruímos penosos ladeira abaixo

ofuscados pelo brilho imenso

que se gera no ambar desta  dureza

infatigável

irredimível no tempo

e na lava que se derrama

pelas encostas da minha impaciência

referenciada em todo o pensamento

criativo e benevolente

de um quatzo tão puro e cristalino

que se ergue brilhando imenso

no xisto derradeiro da nossa existência

FC

Serenidade

Serenidade
 
Com ímpeto indomável,
sigo os trilhos perdidos
sem vaidades ou desvarios
pois minha coragem contida
é do tamando e por medida
tão desmedida
vai além, subindo  montanhas
temerosa e conversa
alimentando tanta fé
como a semente de mostarda
pequena , mas uma vez germinada 
se ergue qual árvore frondosa abençoada
move até montanhas e obstáculos intransponíveis

O que a vida nos ensina

O que a vida nos ensina...
 
Eis porque a vida me ensinou
a obter sempre o mínimo 
de consenso
quando é difícil descrever as incertezas
e os contratempos
almejar até as tristeza do vento
quando próximo ainda consigo
repartir com denodo
parte do meu tempo
e carrego todos os abraços
confiantes do tamanho
das lágrimas que choram
contemplando a alegria que ainda perdura

Dá-me vida

Dá-me vida
 
Dá-me vida...
um pouco mais que esta
inconsolável, imcompreendida
para que os desejos e esperanças
se mantenham viçosos 
saciados sem pressas
de chegar onde chegámos
deixando só cicatrizes que o tempo vago
distante e incessante
tanta vida nos oferta e afaga...
FC

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