contesto o negrume dos tempos e as suas perturbadas rubricas; as suas traiçoeiras doutrinas que injuriam os abraços sinceros; a violência dos seus atos febris e a hipocrisia das suas mensagens; os seus obstinados problemas.
as amizades que busquei para suavizar os meus problemas...: eu esperava que contivessem fecundos aromas que me apartassem da dor; e entendia que as suas manifestações afetuosas remendariam o meu fado.
conquisto a perenidade da razão quando desenrolo os estereótipos do sucesso para os arremessar numa lixeira; ou para os expor na vitrina das vulgares ambições; ou para os corrigir através das ideias que sustento.
recupero as intempéries por que passei antes de avistar a bonança: para extrair do coração as privações afetivas; para rasgar o certificado das humilhações; para obstruir os trilhos da ignorância.
atinjo o clímax da sublimidade quando entorno os meus intentos na vasilha da poesia: quando as minhas opiniões desaprovam as sociedades que me torneiam; quando patenteio a minha existência num versejar perseverante.
hoje falo da cárie introduzida no cerne das nossas vidas e que nos degenera; que propicia um vasto leque de efusões nocivas que nos redobram a malvadez; que nos fazem recusar os abraços sinceros.
as composições que outrora redigia tinham o engenho dum garoto precoce; tinham o desembaraço da minha imaginação; tinham o discernimento da minha alma evoluída; e tinham o odor do meu cativeiro.
concentro-me na razão para vivificar a minha existência; para expelir o azedume que recolhi no vulgar comportamento das pessoas; para oferecer uma patuscada intelectual que difunda a arte poética; que enraíze nos leitores toda a beleza que vislumbro.
as mágoas não preenchem os diplomas da nossa existência; não perturbam as nossas supremas realizações; não fragilizam a estatura da nossa alma; não espezinham os nossos benignos intentos.
há comportamentos que expandem os nossos rancores pelas frestas da solidão onde nos movemos; que comportam intentos maldosos que asseveram a derrocada das nossas emoções; que patenteiam os nossos desencantos.