há temas que me fazem entristecer porque caminham lado a lado com a minha primitiva intemperança; com as palestras carunchosas da minha juventude; com as reminiscências ásperas do convívio paternal.
abjuro a indolência para narrar as minhas rebeliões e os meus desacatos; para transcrever os meus aforismos poéticos; para quebrar a foice que amputou a minha mocidade; para devolver à minha vida a ênfase que ela possuiu.
toda a coragem é necessária para erigir o nosso futuro através duma poesia adubada pelo vento; através dos tratados dos sábios que estruturam as nossas reflexões; através das fragrâncias que descobrimos para ilustrar a nossa agudeza.
revogo o meu desassossego quando fortifico a concórdia e a temperança; quando transito por lugares onde vislumbro a bondade e a decência; quando invento panaceias contra as minhas desilusões.
gostaria de poder transfigurar as pessoas: de redimir as suas faltas e de exortar a sua benignidade; de promover as suas gratas emoções; de as instalar num oásis sentimental.
a dor jaz em todas as pessoas que se arruínam em vida: nos seus conturbados rodopios em torno dum féretro; nas emaranhadas posturas que ostentam dentro da frágil redoma que as abriga.
num recreio me firmo para hidratar a consciência; para que os meus sintomas carrancudos prescrevam de vez; para que a dança das palavras me espaireça nos antípodas desta vida rotineira.
uma índole caótica guiou-me para parâmetros desalmados quando destapei os meus ferimentos; quando o ambiente circundante me confundiu o juízo; quando acolhi os clamores furibundos da multidão.
as peripécias que sacodem a minha inconsciência são arremessadas para uma poesia que intentam deslumbrar; afivelam a máscara da inibição para depois destaparem as memórias que contêm; para depois morrerem no centro do oásis que forjei.
as injúrias estão incrustadas no meu pensamento para que eu usufrua dum diálogo secreto com elas; para que as notifique sobre as suas danosas intenções; para que as possa esbater através das ondas transparentes da minha poesia.