um visceral discernimento
Autor: António Tê Santos on Saturday, 3 July 2021esgrimo contra o tédio para me poder serenar no tablado da vida e para que a minha inspiração se estilhace em fragmentos lucrativos no chão lavrado pela poesia.
esgrimo contra o tédio para me poder serenar no tablado da vida e para que a minha inspiração se estilhace em fragmentos lucrativos no chão lavrado pela poesia.
suprimo o ressentimento para mitigar os danos que rodeiam a minha prolongada instabilidade; para que o gorro da virtude sufoque as minhas aceradas recordações; para que os fundamentos melancólicos dos meus discursos prescrevam de vez.
os versos que eu aprimoro para escorraçar a serpente que circunda os meus obstáculos... os versos que eu inspiro para que o descrédito não brote da hipócrita estrutura que atabafa os meus pensamentos...
há dissertações que se libertam dos modelos gerais para nos guiarem até à erudição; para suprimirem a nossa natureza consternada através duma harmonia interior; para manifestarem a nossa esperança através duma agudeza penetrante.
quis superar os meus obstáculos num mundo que me feria com a sua espada pontiaguda; com as suas modas favoritas que infamavam o meu destino; com os seus labores mediáticos e as suas reputações exacerbadas.
incorporo na erudição paisagens que desenrolo desde o cerne das utopias para que o guerrilheiro que há em mim arrase as muralhas que tive de transpor; para que ele afogueie os campos oníricos percorri para desencantar as minhas recordações.
celebremos a vida quando ela nos afasta dos desenganos após a lucidez espargir os seus monólogos sobre os sustentáculos da nossa poesia; após os nossos desejos silenciarem a vozearia humana e a contextura das nossas perturbações.
a minha regeneração ilumina um futuro que se esgueira por entre os vendavais quando o ócio superintende os meus devaneios e a poesia baila sobre o testamento aurífero das minhas contusões.
quero embargar os açoites à nossa consciência perpetrados pelas matilhas que nos impugnam; as genuflexões que nos humilham junto daqueles que promovem as nossas angústias; os juramentos dos que nos ludibriam com as suas reverências afetuosas.
o conhecimento danifica o motor da nossa idealidade porque suspende os trâmites das nossas pretensões quando deflete para o lado real da vida para mitigar a nossa alienação.