Natureza

OS OLHOS DE DEUS

 

 

 

 

As estrelas são os olhos de Deus?

 

Ou são órgãos do espaço celeste?

 

Por acaso de sua brancura emana

láctea nutrição?

 

Por acaso elas são acesas

por um famigerado acendedor?

 

Ou serão assim mesmo:

pérolas de marcante fomento?

 

Será que são flocos de marfim

dispersos no céu altaneiro

a nos guiar

em meio à névoa dos dias?

 

Sabemos? Sabemos de seus desígnios?

 

Fato é que elas estão sobre nós:

 

natureza difusa

 

Em varios domus um patricio sufoca nas ruas impreguinadas de labirintos

um plebeu reina com gramas nos pés,  e no céu uma nuvem me deixa só

sem goticulas no rosto , quais arvores impetuosas matariam  Fidias o arquiteto 

curva da mão concha na mão , de onde deslisa o arqueduto? ,na encostas de rochas 

amarelas quase ouro a pele das ruas mantem uma poeira do mar mediterãneo 

o solo foi um barco que navegou continentes ,seu perfume de azeites ,as colinas lamentam-se com neve e vento, não existe outro  ou alguém para reclamar.

 

o espirito da solidão

ALASTOR: OU, O ESPÍRITO DA SOLIDÃO
de Percy Bysshe Shelley (1792-1822)
Traduzido por Eduardo Capistrano
 
 
Terra, Oceano, Ar, amada irmandade!
Se nossa grande Mãe imbuiu minha alma
Com algo de piedade natural para sentir
Seu amor, e para recompensar a dádiva com o meu;
Se a manhã orvalhosa, e o meio-dia odoroso, e o entardecer,
Com o pôr-do-sol e seus deslumbrantes ministros,
E a quietude formigante da solene meia-noite;

PRIMAVERA

  

 

 

Venho depois do inverno

colher rosas amarelas

e juntar todas

em um perfumado buquê

 

E propor à primavera

uma pausa na estação

para prolongá-la

na cadência dos dias

 

Época de transe floral

bela e transcendental

lindas orquídeas

colhidas sob a neblina

 

Tulipas / jasmins / margaridas

de tão acentuado vigor

que as tornam ousadas

feito um hábil sedutor

 

RAÍZES DE MIM

 

 

 

raízes de mim

vapor de essências

mas não me calha a indiferença

do estar no mundo negligentemente

diante do que sofra ou alegra

 

porções de mim

íntegro e desintegrado

com feitio de bárbaro relevo

destinando-me o clamor dos lírios

fluido exigente que sou

 

exalando um jorro incontinenti

como um cântaro derramado

que me assola irremediavelmente

-camurça de dor

ou urro de abrupto langor?

 

PRENÚNCIO

 

 

 

nos meandros do tempo

 

sobressaem-se nuvens lodosas

 

encobrindo nas montanhas e terras

 

uma trágica desolação

 

-consciente ou não

 

que irá implicar

 

no sacrifício de árvores, fauna, e água

 

para subtrair

 

do dia: o sustento

 

(que irá definhar)

 

da noite: o oráculo

 

(que nos caberá no julgamento final)

 

como uma presa rendida

 

irresoluta

 

Céu

O céu púrpuro tocou-me
A própria arte é a natureza
As nuvens de algodão-doce
Na minha boca adocicam
Meus trovões na revoada
Dianteiros ao meu caos
Um minuto de silêncio
Para a balbúrdia dos ventos...
Cantarolando o bardo se ouve
Batendo as asas joviais
Voe como pena e sem pena,
Seja livre!
Anoitece as várzeas do meu
Vale, e lá os pingos brancos
Plantam o lindo céu.

POR DENTRO

 

 

 

ando

como se tivesse nas pegadas

halteres de fisiculturismo

e quando a chuva

inunda de asas

o êxodo dos insetos

sou o halo da existência

e seu contato com a estação

e

sem querer

me vejo através dos flocos

de voragem

que me desatam a névoa

dos olhos

como borboletas assépticas

soltas

na atmosfera

sem enigma de aragem

ou tolice de hera

 

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