Natureza

o espirito da solidão

ALASTOR: OU, O ESPÍRITO DA SOLIDÃO
de Percy Bysshe Shelley (1792-1822)
Traduzido por Eduardo Capistrano
 
 
Terra, Oceano, Ar, amada irmandade!
Se nossa grande Mãe imbuiu minha alma
Com algo de piedade natural para sentir
Seu amor, e para recompensar a dádiva com o meu;
Se a manhã orvalhosa, e o meio-dia odoroso, e o entardecer,
Com o pôr-do-sol e seus deslumbrantes ministros,
E a quietude formigante da solene meia-noite;

PRIMAVERA

  

 

 

Venho depois do inverno

colher rosas amarelas

e juntar todas

em um perfumado buquê

 

E propor à primavera

uma pausa na estação

para prolongá-la

na cadência dos dias

 

Época de transe floral

bela e transcendental

lindas orquídeas

colhidas sob a neblina

 

Tulipas / jasmins / margaridas

de tão acentuado vigor

que as tornam ousadas

feito um hábil sedutor

 

RAÍZES DE MIM

 

 

 

raízes de mim

vapor de essências

mas não me calha a indiferença

do estar no mundo negligentemente

diante do que sofra ou alegra

 

porções de mim

íntegro e desintegrado

com feitio de bárbaro relevo

destinando-me o clamor dos lírios

fluido exigente que sou

 

exalando um jorro incontinenti

como um cântaro derramado

que me assola irremediavelmente

-camurça de dor

ou urro de abrupto langor?

 

PRENÚNCIO

 

 

 

nos meandros do tempo

 

sobressaem-se nuvens lodosas

 

encobrindo nas montanhas e terras

 

uma trágica desolação

 

-consciente ou não

 

que irá implicar

 

no sacrifício de árvores, fauna, e água

 

para subtrair

 

do dia: o sustento

 

(que irá definhar)

 

da noite: o oráculo

 

(que nos caberá no julgamento final)

 

como uma presa rendida

 

irresoluta

 

Céu

O céu púrpuro tocou-me
A própria arte é a natureza
As nuvens de algodão-doce
Na minha boca adocicam
Meus trovões na revoada
Dianteiros ao meu caos
Um minuto de silêncio
Para a balbúrdia dos ventos...
Cantarolando o bardo se ouve
Batendo as asas joviais
Voe como pena e sem pena,
Seja livre!
Anoitece as várzeas do meu
Vale, e lá os pingos brancos
Plantam o lindo céu.

POR DENTRO

 

 

 

ando

como se tivesse nas pegadas

halteres de fisiculturismo

e quando a chuva

inunda de asas

o êxodo dos insetos

sou o halo da existência

e seu contato com a estação

e

sem querer

me vejo através dos flocos

de voragem

que me desatam a névoa

dos olhos

como borboletas assépticas

soltas

na atmosfera

sem enigma de aragem

ou tolice de hera

 

CARACOL LUMINOSO

acolhe-me o luar de cobre
sobre este teto nobre
(desejado como o céu das noites
castanhas)
invadido pela ousadia da lua
ou de um caracol luminoso
no atol das contingências naturais
incandescencia de chama
orvalho laminar
que passeia em folhas sem guarida
-provisória estadia
sobre tenras superfícies-
ribeirão que irá findar-se na alva
(fio curvilíneo
de incompreendida ação -
águas que não se retém nas mãos

CARACOL LUMINOSO

acolhe-me o luar de cobre
sobre este teto nobre
(desejado como o céu das noites
castanhas)
invadido pela ousadia da lua
ou de um caracol luminoso
no atol das contingências naturais
incandescencia de chama
orvalho laminar
que passeia em folhas sem guarida
-provisória estadia
sobre tenras superfícies-
ribeirão que irá findar-se na alva
(fio curvilíneo
de incompreendida ação -
águas que não se retém nas mãos

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