Espelho
Autor: Duarte Almeida Jorge on Thursday, 22 October 2015Peço desculpa se me assemelho,
A este verso tão complexo.
Que a poesia é um espelho,
Onde descrevo o meu reflexo.
Peço desculpa se me assemelho,
A este verso tão complexo.
Que a poesia é um espelho,
Onde descrevo o meu reflexo.
Viraste a página que te cobria
Como se fosse um quente e escorregadio cobertor.
A descoberto saiste para o dia
Que te amanheceu,
Deitado no chão do meu quarto,
Penso na minha ausência.
Se deixaria alguma saudade,
Ou apenas indiferença.
Deitado no chão do meu quarto,
Há tanto que não entendo.
Por sentir demasiado,
Acabo sempre aqui deitado,
A sangrar-me por dentro.
És o único pensamento que me ocorre,
A tua ausência limita-me a vontade.
Sou de um país onde nunca chove,
Na ânsia de beijar a liberdade.
Sinto no meu corpo uma dormência crescente,
Vivo num extremo de sensibilidades.
Tanto estou saudável, tanto estou doente.
Responsável sem responsabilidades.
Sobrevivo confuso sem saber para onde vou,
Oiço-te, toco-te, vejo-te na minha solidão.
Sou aquilo que tempo não apagou.
Sou uma memória em negação.
Será que estes versos valem milhões?
Ou será que não valem dois tostões?
Pobre ou rico, calado eu não fico.
A agonia de não ter nada para dizer.
Angustiante loucura privada de génio.
Explode em mim a vontade de gritar.
Mordo-me em sangue por te ser indiferente.
Sofro demasiado neste corpo tão fraco.
Penso tanto, mas faço tão pouco.
Minto a mim mesmo, e a todos.
Constantemente idiota.
Sou eu, mas não queria ser.
Preferia ser melhor, mais do que isto que sou.
Será este o meu talento? O meu destino?
Não será certamente, tantos que são tão talentosos, tão originais.
Será deles o futuro.
Transeunte viagem,
adiando ódios de ilusões,
que chegará apenas à estalagem,
lembrando pódios de razões,
de não existir qualquer estalagem.
O avanço do Ponteiro
é uma guerra contra a estática da acção,
porque não existe roteiro
para o querer da ilusão.
Todos procuram
sem saberem que, ao procurar,
internamente recusam
o que externamente tentam encontrar.
O desejado porto
é intrínseco a cada um.
Procurá-lo é o aborto
do embrião que a todos é comum.
[Sê-o].
O que para mim era verdade, na verdade era mentira.
O que para mim era real, na realidade não existia.
O que para mim fosse o que fosse.
E se fosse mais? Se fosse menos?
Seria.
E eu seria verdade, ou seria mentira.
Sem saber nada na realidade.
Seria.