Prosa Poética

Lamento

Lamento por essa onda que vai morrendo
 
devagar
 
por entre outras ondas do mesmo mar
 
Lamento que de depois da vida
 
a vida agora toda ela
 
se escoa numa onda
 
rasgando minhas maresias
 
quando tombo todo eu
 
a teu estibordo
 
e de mansinho me banhes
 
com estrondos e silêncios
 

Por fim a cura...

Dos males que a vida, por vezes
 
impotente devora em meu corpo
 
resta somente buscar na enfermidade
 
do tempo
 
a cura possível
 
sem mais padecimentos
 
nesta epidemia onde enfermo
 
o corpo regurgita em cada segundo
 
deprimidos risos
 
escondidos numa célula
 
que prolifera nesta química activa
 

Ecos em comunhão

Ver-te neste sonho iluminado
 
é sentir  a luz que reentra pela fresta
 
dos ecos quase impalpáveis
 
clareando aqueles dias originais
 
unindo-nos numa combustão
 
fraterna…quase Divinal
 
 
É a fome de minha’alma percorrendo
 
todas as artérias em coesão
 
rumo às alegrias que por lá
 
deixámos em comunhão
 

Pelos atalhos do tempo

Cambaleei dobrando todos
 
os atalhos do mundo
 
levando meu corpo empanturrado
 
com dores e despertares
 
atentos ao cansaço da vida
 
que nos foge em vertigens
 
sem alaridos nem desalentos
 
mas purificando aquelas promessas
 
transitando dia a dia em ondas
 
fisionómicamente bafejadas de amor
 

Cartografia de uma lágrima

Amigo sejas meu
 
em todas as horas
 
que me sustentas nas tuas existências
 
Que me fazes nunca chorar
 
pois comigo padeces
 
elaborando a cartografia
 
de minhas lágrimas sofridas
 
em rimas e maresias saudadas
 
em teus mares onde navego de mansinho
 
num manto de palavras
 
que arquivo em cada onda
 

Galgando a imaginação

Filmei esta poesia em raras
 
lembranças que se apressam
 
na viagem do tempo
 
galgando todas as adversidades
 
vencendo todos os medos
 
que desencorajamos
 
em sonhos e cumplicidades
 
 
– Buscamos na imaginação
 
nossas efemérides vestidas
 
na itinerância de tantas primaveras
 
onde adormeço minhas atónitas

Num dia de verão...

Já nem sei mais encobrir
 
o delicado e esbelto verso meu
 
mil vezes repetido,
 
tantas vezes ousado
 
à tua espreita, sorrateiro
 
tantas vezes tatuado no dorso
 
nesta manhã predileta
 
mendigada
 
em dois corações conversos
 
desesperadamente felizes e audazes
 
 
 
 

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