Prosa Poética

Busto da solidão

À esquadria de qualquer lamento grita cada hora
Mais prenhe mais vegetativa, inquietante e tão apelativa
Um segundo reptiliano ziguezagueia entre palavras adversativas
 
No busto da solidão está solidificado um eco quase pejorativo
Penosa a luz sucumbe entre tantos breus carentes e esquivos

Toquei na alma

Toquei na alma e pressenti na derme dos silêncios
O tinir e vibrar de uma fluorescência tão desodorizante
Ali um eco periódico esboroa-se felino, volátil e sussurrante
 
Toquei na alma e reconheci nas palavras a doce licorosidade
Que apascenta o pleno esvoaçar do tempo alucinante, tão sibilante

EQUILÍBRIO

Equilíbrio

 

Cobramo-nos tão rigorosamente quanto ao entregar-se aos erros

Como se o passado fosse uma lição de fácil percepção

Páginas vividas a serem esquecidas como filme velho branco e preto

Ausente de cores comoventes do provocar da sincera emoção

 

Exerça a humildade em assumir seu lado fraco humano

Não deixando passar inotório o temor de novamente erros cometer.

Errar é o ato verdadeiro do tentar acertar com enganos

Mas não se deve estender isso na vida como razão de sofrer

 

Ventania das sombras

Sendo o vento em desvairo, eu caminho em todos os lugares, locais principalmente ocultos. Vejo a sombra dos humanos os perseguindo. Todos têm algo a esconder, todavia, do meu sopro, tudo se esvai. Caminho entre os caminhões armazenando concreto. Quem dera se eles se chocassem; não literalmente, mas entre segredos. Imagine só o quanto os blocos excruciariam na cara. Quanto sangue seria derramado; seria como um mar onde apenas o horizonte é livre, ao toque da vermelha verdade.

Nos prados celestiais

Nos prados celestiais vadiam azuis infinitos e quase sufocados
Na mezzanine do tempo empoleiram-se sonhos tão extasiados
Consubstanciam o tempo dissertando em tantos segundos camuflados
 
Nos prados celestiais os poentes rugem na calada de um eco deslumbrado
São o mais breve e felino atalho onde se escoram os desejos tão empolgados

Sem Mais

Cálida forma de ser
que aprisiona minh'alma
num dilema cruel de  viver
Entre a sede e o transbordar
o melhor de mim encontrar
com o que sei sem saber
Da intensidade que me criou e em minhas
 entranhas  fincou 
a certeza contrária de tudo que sou
Na estrada que se abre 
como cruz de alarde 
sigo em frente sem saber onde vou.
 

HÁ O QUE HÁ

 

 

 

há saudade que não se recorde?

 

há mulheres que são de ninguém?

 

há indícios de deserto na solidão dos pântanos?

 

há ternura que desagrade alguém?

 

há escadas para se tocar o abismo?

 

há virtudes que infligem temor?

 

há cores que vazam os olhos?

 

há rios que delimitam o céu?

 

há abrigo na louca paixão?

 

há trevas que contrariem  um olhar?

 

há delícias em lembranças malditas?

 

-há o que há

 

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