Prosa Poética

Sou dentro o clarão nos poemas da Florbela Espanca

Noivado estranho no coração deserto

é Cegueira constante da memória

que alastra e queima em Maior tortura no vazio  de um livro.

 

Que Desalento o poema do poeta Só  e Errante.

Texto de sílabas derrama a lava dos vulcões

em papel branco de mim

ferindo o peito roto onde bate o ritmo dos meus Sonhos.

 

Ditem que eu sou a Louca e eu cantarei mais alto que a loucura.

Agito as águas calmas em ondulações de desejos, prescrevendo a loucura onde cantarei mais alto. Transformo o corpo no vento solar das marés vivas e a fala das pedras no novo cântico.

Troco o silêncio da noite pelo espanto da manhã, bebendo cada raio de sol que ilumina a rosa, são serenatas de emoções novas com que elevam os meus olhos.

Ipê Vermelho

Os caminhos que já tínhamos andado parecem ter marcado encontro na esquina do Ipê. Árvore singular. Talvez pedantemente singular, já que não se contenta com a beleza das flores roxas ou amarelas que suas outras irmãs ostentam e se cobre de um manto vermelho para se distinguir de todas.
Há cerca de vinte metros, ainda próxima de sua sombra, encontra-se a Escada Rolante que leva à Estação Subterrânea do Metrô Santa Cruz; e foi ali, hesitando em lançar-se rumo ao “abismo desconhecido”, que a vi pela primeira vez.

O Amor estremece o medo

O Amor estremece o medo

 

…busco a boca que anela o tempo, o tempo que rompe os lábios

bebendo o grito da saudade que esvazia o fundo em floresta de

nevoeiro. silenciar o espaço, extinguir os nervos, acorrentar o

sentir, vacilar no verbo fazer em querer.

…no amor vejo os glaciares e o medo estremece, e a luz derrete

a cor no olhar dos amantes sob real. vê se a queda da montanha

que arde no frio e o amor estremece o medo da morte na boca do

texto da Origem.

O Abraço

O Abraço

 

Em momentos de mágica,

canto-te outro texto em caligrafia poética de mim…

abraço que ata os corpos de pele nua

como  a raiz da terra,

aconchego em porto seguro,

onde querer-te é outro porto.

 

Abraço,

Cama de emoções que te cala e dita

as permutas de afagos de carência,

é mais do que um beijo,

gesto divino, poço onde

se caldeiam as emoções.

 

Tacto do sabor das emoções em

que todos confundem o Amor com a carência,

Tacto é a Origem,

O Desejo

O Desejo

 

O desejo é fábula e metáfora,

todas as bocas de mim são fábulas e metáforas,

água salgada em lagos doces,

planície desejante que talvez floresce em ferida aberta,

navegar verbo preciso em dois mundos

de dia e de noite, é Desejo,

alimentar as rosas em poema repetido, erótico, é Desejo,

regressar á boca e salivar as sílabas, é Desejo,

sangrar em papel branco de mim, é Desejo,

romper a veia da palavra e arder, é Desejo,

refazer a dúvida na certeza, é Desejo,

Jardim do Nunca

Jardim do Nunca

 

Estonteante Jardim do Nunca onde

eu em letargia de mim

grito cada verso que mordaça o íntimo.

 

Haverá sempre flores,

bocas, vogais que dormem e não calam,

novos símbolos a florescer em teu olhar,

ambos frágeis e cintilantes.

 

Jardim perdido em fogo,

arde sobre mim sobre ti em mim,

orvalho de cinzas em línguas de sílabas

flutuam desamparadas entre esquecer e falar.

 

Escrevo-me por paixões,

sopro em desespero vendavais internos,

O Tempo determinante

O Tempo determinante

 

Escondida nas muralhas do tempo

espero o tempo determinante

num determinado tempo.

 

Tempos que não voltam

são tempos esquecidos,

são tempos que o vazio recusa

e municia-se de tempo presente.

 

Este é o meu tempo,

o tempo que recuperei dos

vinte e dois anos que rompi.

Este é o meu tempo,

tempo que determina quem eu sou

e em que tempo estou.

 

Este é o tempo que determino,

o tempo determinante.

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